A ideia de conhecer o Vale Europeu, em Santa Catarina, surgiu de
bisbilhotar os ciclistas! O Vale Europeu é uma região formada por seis
ou sete cidades onde as colonizações Italiana e Alemã se mantém
presentes até os dias atuais, no nome das ruas e moradores, em seus
sotaques, nos estilos das construções, na produção rural e nas flores
que enfeitam tudo pelo caminho.
Decidido a desbravar o Vale Europeu, parti
de São Paulo com a Carrancuda, Nay na garupa, e as malas, sentido sul
do Brasil. No caminho rotineiro para quem vai para o Rio do Rastro
aproveitei para fazer algumas paradas novas!
Texto e fotos: Tom Pederneiras
Edição: Alexandre Nogueira
A primeira foi no Palmitos da Fazenda, onde um imenso Buffalo de metal
chamado de Mansinho nos recepcionou. Café tomado e salame no top case,
seguimos pela Regis para parar novamente na placa da estrada que
indicava a Cachoeira da Capelinha. E lá vamos nós iniciar o trajeto na
terra! Depois de muito sobe, desce, desce, foge de cachorros e sobe de
novo, chegamos à primeira cachoeira fechada da viagem. O portal do
Parque Estadual do Turvo é imponente mas estava fechado assim como
outros parques e cachoeiras devido a pandemia. De volta à estrada, com
dor no coração, ignoramos o Portal da Graciosa, mas era dia de buscar
novidades e dali já tínhamos muitas fotos. Fomos direto a São Bento do
Sul onde no abastecimento ficamos sabendo da cascata Paraíso (também
fechada). Ali entramos no clima europeu da cidade que parecia um set de
novela de época.
Seguimos em frente para curtir a atração do dia. A Serra Dona Francisca,
assim como o Rio do Rastro e a Estrada da Graciosa, eram utilizadas
para escoar produtos da serra para o litoral. O destaque fica para
sequência de 8 curvas em cotovelo que vencem o desnível. Pegamos uma
neblina terrível, porém os raios baixos do por do sol invadiam a
cerração passando entre as árvores, criando efeitos especiais
espetaculares. Era tanta cerração que passamos reto pelo mirante e
paramos em uma das vendinhas na beira da estrada para tomar algo quente.
Dormimos em Joinville no Hotel Sabrina que sempre nos recebe na região e
no dia seguinte cedo partimos para o Vale Europeu. Cruzamos Jaraguá do
Sul e logo estávamos em Pomerode, considerada a cidade mais alemã do
Brasil. Seguimos direto para Timbó onde o caminho começa. Chegando lá
fomos pegar informações no restaurante Thapyoka (é assim mesmo que
escreve). Ele fica na beira de uma maravilhosa cascata do rio Benedito e
lá tudo respira cicloturismo no Valeu Europeu! Nos informamos, pegamos
nossos passaportes e começamos a seguir o caminho das setas amarelas.
Assim como é comum nas peregrinações por Portugal e Espanha todo o
caminho é sinalizado em amarelo. A busca pelas flechinhas resume nosso
dia e a brincadeira é bem divertida! A cada seta encontrada
comemorávamos e confirmávamos que estávamos no caminho certo! A primeira
parada foi em uma ponte de madeira coberta, tradicional das estradas de
Santa Catarina. Após as fotos seguiram muitos km de sobe e desce por
estradinhas boas e cenários deslumbrantes. Ao chegar a Pomerode
percorremos o circuito Enxaimel com casas de marcante arquitetura
europeia, tijolos em tons diferentes, estruturas de madeira a vista e
janelas com muitas flores. Seguimos as setas passando por Indaial e
Ascurra onde visitamos o belo santuário de Santo Ambrósio.
Descobrimos então um fantástico hotel em Timbó que nos convidou a ficar
lá, uma vez que estão acostumados a receber grupos de ciclistas e
motociclistas. O local de extremo bom gosto conta com uma cozinha de
onde saem massas maravilhosas que podem ser degustada na beira da
piscina.
Depois de um bom descanso decidimos que a estratégia do segundo dia
pelos caminhos de terra seria outra! Deixaríamos de lado as setinhas tão
divertidas e seguiríamos um roteiro que criamos com os atrativos da
região. E assim saímos pela manhã sentido Rodeio e logo após a cidade já
por terra visitamos a cachoeira Salto. Na sequência chegamos aa um dos
pontos altos da viagem o caminho dos Anjos.
A Nay não se conteve e se emocionou na garupa durante o caminho rodeado
por hortênsias com imagens de anjos brancos por todo lado em contraste
com a natureza verde e algumas casinhas de madeira. Nosso roteiro fez um
desvio grande para visitar a imperdível Cachoeira do Zinco. Já havíamos
subido muito por caminhos estreitos envolto em floresta de pinos até
então, mas já dentro da propriedade onde fica a cachoeira a subida se
intensificou. A Tiger 800 XC estava com baús e garupa e o peso
concentrado na parte traseira da moto me preocupou. Mas a cabra velha é
guerreira e os pneus Avon Trek Rider fizeram seu trabalho junto ao piso.
Chegando lá em cima o paredão rochoso é digno de mirante principal das
maiores chapadas do Brasil, lembrando muito a cachoeira do Caracol em
Canela.
Buscando trilhas
Tudo parecia ser incrível e tinha muito
mais pela frente! Na sequência passamos pela cachoeira do Paulista
(fechada), fizemos uma parada para o lanche na gruta Nossa Senhora de
Fátima de uma tranquilidade e paz impar, trilha para o Véu da Noiva e
exploramos as pedras do Salto Donner, tudo isso próximo a Dr. Pedrinho.
Como era nosso último dia e a empolgação era grande resolvemos, apesar
do horário, completar o tour subindo ao Alto Cedro em Rio dos Cedros. A
subida trouxe novos visuais e desafios.
Toda a região tem um terreno arenoso e úmido devido a presença da mata,
essa mescla cria um piso que impressiona porém gera bastante aderência. E
novamente subimos as estradinhas para chegar à maravilhosa barragem do
Pinhal no alto da montanha. O local é cerado de hotéis, restaurantes e
pontos turísticos. Mas a tarde já se punha no vale e resolvemos descer a
montanha mesmo sem luz para retornar a Timbó e finalizar nosso roteiro.
No dia seguinte seguimos de volta para São Paulo.
Para quem pretende seguir esses caminhos, recomendo um pouco de
intimidade com a pilotagem na terra e pneus próprios para isso. Em geral
as estradas são muito boas e conservadas porém o relevo é acidentado.
Vá com muito tempo para curtir o passeio no ritmo que ele solicita,
integrando-se com a natureza e com o tempo do Vale Europeu, o lugar
merece.
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