23º Portugal de Lés-a-Lés – Muito mais do que uma aventura em duas rodas
O 23º Portugal de Lés-a-Lés foi muito mais do que uma
aventura em duas rodas. O maior evento de mototurismo da Europa redescobriu a
Estrada Nacional 2 e foi um sucesso em todas as frentes!
Depois
de três etapas às quais ainda se somou o Passeio de Abertura no primeiro dia, o
23º Portugal de Lés-a-Lés, evento anual organizado pela Comissão de Mototurismo
da Federação de Motociclismo de Portugal, voltou a pautar-se pelo sucesso em
todas as frentes mesmo em tempos de pandemia ajudando a redescobrir locais e
povoações muitas vezes esquecidas.
Os motociclistas, nacionais ou estrangeiros, aceitaram percorrer Portugal de
norte a sul sem viajar pelas autoestradas. Momentos de convívio, momentos de
aproveitar as motos em algumas das mais belas estradas de Portugal. E também
momentos de solidariedade, momentos de ajudar algumas populações que têm sofrido
bastante nestes tempos de pandemia.
O sucesso foi, mais do que nunca, medido em sorrisos, valor intangível em
termos de retorno financeiro, mas que deixou todos de coração cheio. Todos! Dos
elementos da eficaz máquina organizativa aos cerca de 2500 participantes,
passando pelos elementos das autarquias, freguesias e clubes que apoiaram a
grande maratona e, sobretudo, das populações atravessadas pela enorme e
heterogénea caravana.
Foram 1027 quilómetros de descoberta e alegria, de História e boa disposição,
de paisagens e contacto com as gentes locais, de património e prazer de
condução. Foram 4 dias de liberdade no tão ansiado regresso à estrada por parte
dos mototuristas portugueses, lusitanos dos quatro cantos do Mundo, mas também
espanhóis (muitos como sempre!), franceses, italianos, alemães, belgas,
holandeses, suíços, brasileiros, angolanos e húngaros.
Foram quase 200 horas, ao longo dos 4 dias, a ver passar motos de uma caravana
que estendia por 6 horas um manto de enorme alegria à passagem em cidades e
vilas como nas mais recônditas aldeias. Foi um passo importante rumo à
normalidade que todos desejam, um clarão de esperança para quem esteve fechado
ao mundo durante mais de um ano e meio.
Uma caravana enorme que ligou Chaves a Faro tendo a mítica Estrada Nacional 2
como linha-mestra, mas que mostrou muito mais Portugal numa aventura que teve
São Pedro do Sul e Abrantes como portos de abrigo entre cada uma das três
etapas.
Mas foi, também, “Muito mais que a N2”! A Comissão de Mototurismo da FMP prometeu
e cumpriu, calando os mais céticos que pareciam duvidar de tudo o que Portugal
tem para oferecer, levando animação a 35 concelhos dos 11 distritos
atravessados pela estrada que surgiu no 1.o Plano Rodoviário Nacional, em 1945,
como espinha dorsal de uma rede viária que pretendia acabar com assimetrias e
chegar mais perto das gentes do interior.
A Associação de Municípios da Rota da Estrada Nacional 2 (AMREN2) aceitou o
desafio da FMP e ajudou a descobrir recantos inimagináveis, que surpreenderam
mesmo aqueles que se achavam perfeitos conhecedores dos segredos da N2. E
assim, além de atravessar os 13 grandes rios e 11 serras, o 23º Portugal de
Lés-a-Lés serviu de alavanca a uma recuperação económica e, porque não dizê-lo,
psicológica de uma região do País particularmente fustigada pelas sequelas de
uma pandemia que teima em continuar a atormentar mais do que meio mundo o Mundo
inteiro.
Solidariedade sobre (duas) rodas
Solidários como só os motociclistas sabem ser, ninguém hesitou em responder de
forma afirmativa ao desafio lançado pela FMP, esgotando a hotelaria dos locais
que acolheram a caravana e deixando milhares e milhares de euros na
restauração, nos postos de combustível e nas mais diversas lojas e outros
serviços.
Um contributo a que se juntou a mensagem de esperança nos melhores dias que aí
vêm, importância sublinhada pelo Secretário de Estado da Juventude e do
Desporto que na chegada a S. Pedro do Sul, no ‘seu’ distrito de Viseu,
expressou a “grande satisfação por
sentir o impacto imediato deste evento motociclístico” em que, enquanto
membro do executivo, participa desde 2017.
João Paulo Rebelo confirmou, nesse momento, que “a capacidade hoteleira de S. Pedro do Sul – e que é bem significativa
– estava completamente esgotada, algo de muito importante para as populações
porque é importante ir animando a economia, o que é bem necessário para mais
rapidamente conseguirmos ultrapassar estes momentos menos bons”.
Aquilo que muitos viam como um verdadeiro dois-em-um, cumprindo os sonhos de
fazer o Lés-a-Lés e descobrir a N2, foi, afinal, muito mais do que isso. Foi a
oportunidade de contribuir para a revitalização do interior ao longo de jornada
onde não faltaram imensas escapadinhas à descoberta de surpreendentes tesouros
de paisagens e monumentos pouco conhecidos. Que espantaram os muitos estreantes
como os mais experientes.
Tanto os quatro totalistas – Luís Simão com a sua inconfundível Yamaha Virago
535 que o acompanha desde 1999, Ângelo Moura, presidente da C.M. de Lamego, o portuense
Paulo Mendes e o mirandelense Luís Santos – como Hélder Alves que vai na nona
participação, sempre aos comandos de uma Jawa 250 fabricada em 1952, “e que voltou a terminar sem qualquer
problema”, ou o sempre animado grupo ribatejano das cinquentinhas de Santo
Estevão e Benavente.
Atravessar fronteiras e quebrar barreiras
Tempo para colocar um pé em Espanha, com a ajuda de contrabandistas e anuência
dos guardas fronteiriços de um e outro lado da fronteira flaviense em divertida
recriação histórica, e para conhecer castelos como o de Santo Estevão, Monforte
de Rio Livre ou Forte de S. Neutel (em Chaves), Aguiar da Pena, Vila Real (arruinado),
Lamego e Montemor-o-Novo.
Pontos ao longo do País cuja viagem era confirmada no passaporte especificamente
criado para o evento, com 35 carimbos que atestavam o cumprimento de todo o
percurso incluindo as passagens nas barragens de Mairos, Aguieira, Cabril ou
Odivelas, na Igreja Românica da Nossa Sr.a da Azinheira (Séc. XII), nos
vestígios Igreja Matriz de Chaves, no Palace Hotel do Vidago, no Hotel Avelames
(Vidago) ou no Palácio do Marquês de Reriz (S. Pedro do Sul).
Trajeto com pontos de interesse naturais (Pedra Bolideira, em Chaves, ou a Livraria
do Mondego, em Penacova), locais paradisíacos (praias fluviais de Fornelos,
Vimieiro, Cornicovo ou Mega Fundeira), aldeias e vilas lindíssimas (Mairos,
Faiões, Casas Novas, Tulhas da Cabreira, Colmeal, Galveias, Água Formosa e
Sardoal entre tantas outras) e pontos de grande carga histórica, da romana
Ponte de Trajano (em Chaves) a S. Pedro das Cabeças (local onde D. Afonso
Henriques terá derrotado os 5 reis mouros, na conhecida como Batalha de
Ourique), passando pela Cava do Viriato (Viseu) ou pela ponte filipina da
Carvalha (Sertã).
Mas houve ainda tempo para a modernidade da ponte pedonal de Ponte de Sor
(especialmente aberta às motos), para descobrir as minas de Aljustrel, para
apreciar as vistas dos miradouros de S. Lourenço, Fragas do Rabagão, Penedo Furado
ou do Caldeirão e para visitar locais de culto religioso, do Santuário da
Senhora do Viso (St.a Marta de Penaguião) à Nossa Senhora dos Remédios
(Lamego), Sr.a da Ouvida (Castro Daire), igreja da Ermida do Paiva, Sé Catedral
de Viseu, Nossa Senhora da Candosa, Igreja de Alcáçovas, Santuário da Sr.a do Castelo
(Aljustrel), assim como os museus Nadir Afonso e da Região Flaviense (ambos em
Chaves), da Vila Velha (Vila Real), Centro de Interpretação da Máscara Ibérica
(Lazarim) ou da Ruralidade (Castro Verde) numa viagem com passagem e vários centros
históricos mais ou menos recuperados.
E, na chegada a Faro, depois de dias em que a temperatura ambiente variou entre
os 4ºC e os 35ºC, era bem confortável o sentimento prazenteiro expresso em
tantos sorrisos, em abraços e brindes, com promessa de regressar à capital
algarvia dentro de um ano, para a partida do 24º Portugal de Lés-a-Lés.
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