TESTE: ACELERANDO 2.500CC NA TRIUMPH ROCKET 3 R 2020
O motor de 3 cilindros é capaz de produzir impressionantes 22 kgf.m de torque; viajamos para avaliar o modelo antes da chegada ao Brasil
26/11/2019 11:00
No início dos anos 2000 a Rocket 3 era uma cruiser grande e confortável que se impunha pelo enorme motor de 3 cilindros. Tinha 2.300cc dispostos na longitudinal para melhorar a centralização de massas e, consequentemente, o comportamento dinâmico. Agora a Triumph decidiu que precisava repensar a Rocket para a próxima década, e a fez mais “roadster”. Algo semelhante à Ducati Diavel, ambas de difícil enquadramento nas categorias convencionais.
A diretriz principal do novo projeto foi manter um enorme motor de 3 cilindros longitudinal. Ao redor dele seria criada uma moto imponente, mais ágil e competente na performance geral. Assim nasceu a Rocket 3 R 2020, com novo chassi de alumínio fundido e forjado mais curto. Entra no lugar do anterior, tubular, de aço, pesando menos da metade.
A geometria também é outra, privilegiando um comportamento dinâmico mais rápido nas mudanças de direção. São 27,9° no ângulo de direção e 1.677 mm entreeixos (antes 32° e 1.695 mm). O novo chassi recebeu suspensões Showa, com garfo invertido de 47 mm do tipo cartucho, regulável em compressão e retorno. O amortecedor é completamente regulável, com reservatório piggyback e ajuste hidráulico remoto da pré-carga, acoplado a um monobraço (antes bichoque). Na dianteira as pinças são Brembo Stylema de quatro pistões, monobloco, de disposição radial, com discos de 320 mm. Atrás também com quatro pistões, e disco de 300 mm.
Voltando à questão inicial, como impactar novamente o público se a Rocket já tinha o maior motor numa moto? E como evoluir em performance cumprindo a atual norma Euro 5, ainda mais restritiva quanto a emissões? A resposta da Triumph foi desenvolver um novo motor de capacidade cúbica maior, mais eficiente no design. Componentes aliviados e compactados no propulsor e na transmissão reduziram medidas externas, diminuíram 18 kg e incrementaram a potência para 167 cv a 6.000 rpm, com torque de 22,5 kgf.m a 4.000 rpm! Não existe outra moto que chegue perto desse torque.
As duas gerações não têm componentes em comum, mas curiosamente ainda é possível identificar a Rocket no modelo 2020. Os faróis redondos e o motor na longitudinal são inconfundíveis. A nova Rocket 3 tem linhas angulosas, é mais curta, reduziu largura e altura do powertrain (transmissão final por cardã). Além de não ser mais uma cruiser, 15 anos de diferença significam que não há mais cromados. No lugar entra muito preto fosco, e quando é necessário valorizar o uso de metal, este é polido. Todo o conjunto de iluminação usa LED e a lanterna traseira foi embutida no para-lama encurtado. A lista de modificações estéticas continua por cada parte da moto...
Montar nela já é outra experiência. Os assentos não têm mais aquela camada de espuma grossa se destacando, estão integrados às linhas do modelo 2020. Quem conduz usufrui ótimas dimensões para se acomodar, e a densidade da espuma é firme na medida certa. Encontraram uma boa relação entre conforto e firmeza na pilotagem. As pedaleiras são levemente recuadas, é possível ajustar a altura em 15 mm para aumentar o espaço para pernas longas. O guidão largo, quase plano, deixa o tórax levemente inclinado para frente, tudo melhorando o controle do direcionamento da moto.
Nossa avaliação ocorreu na ilha de Tenerife, território espanhol na costa africana, onde pudemos fugir do fim do outono europeu. Chave no bolso da jaqueta, partida apenas pressionando um botão e o painel TFT acende, aquele mesmo da Scrambler 1200. Modo “Sport” selecionado (também há opções Road, Rain e Rider, personalizável) e começamos pela rodovia que contorna a costa. Logo iniciamos a subida ao redor do vulcão Teide nesse roteiro que seria dominado por curvas, escolha corajosa da Triumph.
As sensações são completamente diferentes da antiga, porque de fato é outra moto. Muito mais curta e rápida nas mudanças de direção, parece que estamos pilotando montados sobre o grande motor, numa moto construída apenas com o necessário ao redor dele, controlando diretamente todas as reações. E não numa grande moto lenta, de reações anestesiadas.
Apesar da largura dos pneus (150 mm na frente e 240 mm atrás), que também são altos, a Rocket não resiste a entrar nas curvas. As pedaleiras tocam o chão a 40 graus, o que é muito bom para uma moto desse porte. E depois disso, nada raspa na parte de baixo, o limite está na inclinação de banda dos pneus. Partindo do nível do mar até 2.500 metros de altitude, com curvas de todos os raios, até cotovelos de 180°, não foi preciso ficar raspando as pedaleiras para ser rápido com ela. A Rocket é imponente, mas o centro de gravidade está bem concentrado ao redor do motor, entre os eixos. Com a nova geometria e o comportamento progressivo do tricilíndrico, a pilotagem fica fácil, sem surpresas ou limitações antecipadas.
De 3.000 rpm a 7.000 rpm a capacidade de aceleração é plena. As curvas de torque e potência quase planas já entregam perto da totalidade do torque máximo a 3.000 rpm. Enquanto a 7.000 rpm, ainda se usufrui praticamente o pico de potência. Não é preciso fazer esforço acelerando muito ou reduzindo marchas para ultrapassar um carro. Sobra capacidade de aceleração e retomada, raro chegar ao limite de rotações e usar tudo que o motor pode entregar. A Rocket é progressiva e previsível, empolga deixando o piloto à vontade para se divertir.
Os engenheiros da Triumph decidiram limitar a velocidade máxima a 221 km/h, o que pouco importa. A Rocket 3 R, versão que estará no Brasil em março, entrega sua melhor diversão antes disso, nas acelerações. Não é uma moto para ser pilotada na faixa vermelha do conta-giros, simplesmente porque ela não precisa disso. O que falta por R$ 81.990 é aquecedor de manoplas, acessório instalado em nossa moto que poderia ser de série. Quickshifter bidirecional é outro item comum entre modelos de alta cilindrada que está na lista de acessórios.
E se você estiver preocupado ou curioso com o consumo de gasolina de um motor tão superlativo, é bom saber que não foge à média dos propulsores de alta cilindrada, embora tenha o dobro ou triplo dos outros. Em velocidade de cruzeiro moderada, na rodovia costeira, chegou a 25 km/litro, enquanto acelerando forte na serra, 9 km/litro. A média de todo o percurso foi de 14 km/litro, o que corresponde a uma autonomia acima de 250 km. No entanto, quem busca algo tão incomum quanto a Rocket provavelmente não tem essa prioridade. É justo afirmar que o modelo 2020 se tornou funcional de uma maneira que nunca seria possível para o original de 2004. Mas, afinal, quem precisa sair do semáforo acelerando 2.500cc? Ninguém precisa de tanto, a questão com a Rocket 3 R está mais para “por que não?”
Ficha técnica
Motor: 2.458cc, 3 cilindros, refrigeração líquida, DOHC
Potência: 167 cv a 6.000 rpm
Torque: 22,5 kgf.m a 4.000 rpm
Câmbio: 6 marchas
Chassi: alumínio
Comprimento: n.d.
Largura: 889 mm
Altura: 1.065 mm
Altura do assento: 773 mm
Entreeixos: 1.677 mm
Cáster: 27,9°
Trail: 134,9 mm
Suspensões: garfo invertido de 47 mm ajustável na compressão e retorno e amortecedor ajustável na compressão, retorno e pré-carga da mola
Freios: discos de 320 mm com pinças de 4 pistões na dianteira e disco de 300 mm com pinça de 4 pistões na traseira
Pneus e rodas: 150/80-17 na dianteira e 240/50-16 na traseira
Tanque: 18 litros
Peso: 291 kg (seco)
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