Triumph Trident 660 - Difícil de Resistir

Boa, bonita e barata, a mais recente naked da marca britânica é uma tentação irresistível. Fique a saber porquê!

Não foi fácil mas, apesar de todas as contingências, a Triumph conseguiu apresentar à comunicação social um dos seus mais recentes modelos: a já tão badalada Trident 660, uma moto que coloca a fasquia do segmento naked de média cilindrada a um nível muito elevado, por um preço que, não sendo o mais barato, acaba por compensar com argumentos muito razoáveis.

Tanto em termos de equipamento como em termos de prazer de condução, a nova Triumph Trident 660 foi mais do que uma agradável surpresa, neste primeiro contacto. Revelou em presença umas linhas muito bem conseguidas, a refletirem o trajecto histórico da marca, que dão à Trident 660 um misto de aspecto moderno e revivalista, bastante exclusivo, mas sem demasiada sofisticação, apostando na praticidade, na segurança, na facilidade de utilização e no prazer de condução.

A qualidade de construção revelou-se livre de qualquer reparo, dando ao conjunto um aspecto sólido e compacto, sem ruídos nem vibrações parasitas. O nível de acabamento também é muito bom, com materiais de boa qualidade a potenciarem um aspeto robusto e de qualidade.

Ágil, leve, manobrável, com potência de sobra para uma utilização polivalente, mesmo para condutores mais experientes e exigentes, a Trident 660 será também uma excelente opção para os recém chegados ao mundo das motos, tal como a resposta às preces de motociclistas de estatura mais baixa.

Não me vou aqui debruçar sobre os pormenores técnicos, pois esses já os tinha enunciado detalhadamente aquando da apresentação estática, há poucas semanas, e cujo artigo pode ler se clicar aqui. Até porque a Trident 660 é muito mais do que a ficha técnica resume.

A começar pelo motor, um tricilíndrico desenvolvido especificamente para proporcionar mais potência a baixa rotação, com praticamente todo o binário sempre disponível ao longo do regime de rotação, a nova Triumph surpreende pela suavidade de funcionamento, pela resposta limpa, pela sonoridade viciante e pela linearidade e previsibilidade da entrega de potência. 

Resulta por isso extremamente fácil de conduzir, relegando o papel da caixa de velocidades para segundo plano, já que a resposta ao acelerador é sempre convicta em qualquer relação, permitindo retomas interessantes, mesmo em sexta e a baixa velocidade.

Em velocidades de cruzeiro a sonoridade do motor é apenas percetível, mas à medida que o conta rotações vai subindo, a nota de escape vai-se tornando mais cheia, emprestando um particular encanto à condução, sem no entanto ir a rebentar os tímpanos a ninguém!


O controlo de tração faz um excelente trabalho a digerir qualquer excesso do punho direito, como pude comprovar nas belas estradas da ilha Canária de Tenerife, onde a Triumph levou os jornalistas dos media internacionais da especialidade para que pudessem testar, em primeira mão, os predicados desta nova Trident 660.

A caixa de velocidades mostrou-se extremamente precisa e de accionamento suave, apoiada por uma embraiagem assistida e deslizante, que se veio a mostrar extremamente competente.

No entanto creio que, senão todos, pelo menos a maioria dos demais colegas jornalistas presentes no evento, lamentámos que a Triumph não tivesse equipado com quickshifter (disponível em opcional) os modelos que nos cedeu para esta apresentação.

A rolar na Triumph Trident, na cor preta, sob o imponente vulcão Teide, a 2200 metros de altitude, na ilha de Tenerife. Um cenário perfeito para esta cativante Roadster Britânica.

Isso tinha contribuído para um nível de diversão ainda maior ao longo do dia do evento, caracterizado por baixas temperaturas, estradas que em grande parte do trajecto estavam acima dos 2000 metros de altitude, húmidas e até com placas de gelo em alguns pontos, e bermas verdadeiramente assustadoras. Ainda livrámo-nos da chuva!

E mais justo seria ainda, como compensação da demolidora viagem, que me obrigou, a mim e a outros, a dois dias completos em trânsito, com despertares madrugadores e entediantes paragens alargadas, de máscara na cara, em Madrid e Barcelona, nos respetivos aeroportos que actualmente são aterradoramente ilustrativos da crise que a humanidade está a atravessar, por causa da pandemia.

Ainda assim a Trident 660 conseguiu proporcionar-me um dia de condução excelente, memorável mesmo, e assim compensar as adversidades. 

A agilidade revelou-se quase desconcertante, sendo um dos grandes argumentos desta moto, permitindo saltar de uma curva para outra de forma muito intuitiva, sem esforço, inserindo-se muito facilmente na trajetória pretendida, mantendo uma excelente estabilidade em ângulo.

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A ciclística apurada conta com uma suspensão que não é regulável, a não ser em termos de pré-carga do amortecedor traseiro, mas afinada para um excelente compromisso entre conforto e desempenho dinâmico, que na prática funciona exemplarmente. Conta também com uma travagem muito boa, tanto em termos de potência como de dosagem.

A Triumph criou uma moto do mundo real que, apesar do preço contido e de uma ficha técnica modesta, revela uma competência extraordinária, mesmo relativamente a motos de segmentos (e preços) superiores, destacando-se ainda mais quando comparada com as suas rivais mais diretas, sejam elas de dois ou quatro cilindros.

Mas além disso acrescentou-lhe um pacote electrónico muito eficaz (apesar de não contar com unidade de medição de inércia para adaptar o ABS e o Controlo de Tração em curva), que aumenta substancialmente a segurança, oferecendo dois modos de condução pré-definidos, mas configuráveis, e um modo completamente programável pelo condutor, que inclusivamente permite desligar facilmente o controlo de tracção. 

O interface do utilizador, muito intuitivo, permite ainda, através de apenas dois botões e um acessível joypad, navegar e escolher facilmente entre as diversas configurações.

O painel de instrumentos é bastante legível sob qualquer condição e bastante completo, comportando indicador de mudança engrenada, relógio, diversos totalizadores e indicadores de nível e consumo de combustível.


Este pacote electrónico coloca o preço final da Trident 660 no topo da lista, quando comparada com a concorrência, mas as funcionalidades que acrescenta compensam largamente o gasto e podem mesmo evitar uma ou outra queda e respetivas dispendiosas reparações, ou não contabilizáveis traumas físicos e/ou psicológicos.

E se o preço é mais elevado, a Triumph Trident 660 compensa pela manutenção escassa, que é uma das mais baratas do seu segmento, com intervalos de manutenção alargados, e que representa um investimento que torna o custo de utilização mais baixo ao longo dos anos.

A ergonomia é muito boa, com o guiador largo a proporcionar um bom controlo da direção, os poisa-pés bem posicionados, o assento com bastante espaço, as pernas bem encaixadas, os comandos bastante acessíveis e os espelhos com boa visibilidade. 

O arco entre pernas bastante reduzido permite colocar os pés bem assentes no chão, e o centro de gravidade bastante baixo, a par com o peso bastante reduzido e uma boa brecagem, permitem manobrar a Trident 660 com a maior das facilidades. 

Mas se os condutores de estatura mais baixa vão sair beneficiados, os de compleição maior tampouco ficam prejudicados, a não ser por uma maior exposição aerodinâmica, mas sem nunca parecerem desproporcionais em cima dela.

Por uma questão prática, o módulo do sistema de conectividade “My Triumph” não foi utlizado, pelo que não tive oportunidade de o experimentar. Também fiquei com pena de não poder avaliar a iluminação LED, já que não a conduzi à noite, e tampouco pude pedir a opinião de nenhum passageiro sobre o conforto que a Trident 660 lhe possa proporcionar, ou qual o seu comportamento com a carga extra. 

Também não pude medir efetivamente os consumos de combustível, mas o depósito, com capacidade para 14 litros de combustível, atestado logo de manhã, chegou ao fim do dia, após cerca de 180 quilómetros, em ritmos bastante superiores ao padrão das medições para homologação, ainda tinha, segundo o indicador, pouco menos de metade do combustível, com o fabricante a indicar valores teóricos de 4,7 litros/100km. 

Em contrapartida pude dar uso aos punhos aquecidos que, dadas as circunstâncias, foram um excelente contributo para minimizar o frio que se me fazia sentir e cujo efeito se notava sobretudo nas mãos, pois para um teste deste tipo não gosto de usar luvas demasiado volumosas.

A Trident 660 não é tão radical como a sua familiar mais próxima, a Street Triple, mas é muito mais dinâmica que uma Bonneville. Já tinha dito que mais parece um cruzamento entre as duas, e agora que a pude ver ao vivo e conduzir, confirmei-o. Uma estratégia que a Triumph não se vai arrepender de ter tomado. 

Até não me admirava se, de aqui a algum tempo, surgisse uma versão mais musculada, na casa dos 1000 cc, dos 100cv de potência, e dos 10.000 euros de preço, para os motociclistas mais experientes, posicionada algures abaixo da fabulosa Speed Triple. 

Se lhe despertei alguma curiosidade, então aconselho-o, a partir de finais de Janeiro de 2021, a ir a um concessionário Triumph (clique aqui para ver qual está mais perto de si) fazer um test-ride numa das Trident 660 que vão estar disponíveis para o efeito. 

Entretanto vá pondo de lado os 7.995 Euros que precisa para a levar consigo para casa! Até a pode reservar já, para não correr o risco de que acabem! Olhe que vão esgotar rápido, sem dúvida!




https://www.andardemoto.pt/test-drives/52204-teste-triumph-trident-660-dificil-de-resistir/

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