Prevenir e evitar furos numa moto - Parte I

 


Um furo é uma das situações mais aborrecidas e inesperadas que podem acontecer a qualquer motociclista, mesmo aos mais prevenidos, mas nas motos de aventura, enduro ou cross, a situação é bem mais complexa e diversificada, tal como as soluções.

        

A maior parte de nós já se confrontou com a desagradável ocorrência de começar a sentir a moto a ter um comportamento estranho, seja na frente ou na traseira. Também a muitos já ocorreu chegar ao pé da moto e ter um pneu “em baixo”. 

São situações (relativamente) comuns e que podem e devem ser mitigadas, sempre que possível. É uma chamada de atenção e que requer cuidados da nossa parte para evitar situações de desequilíbrio e eventual queda, ou para poupar o material e o próprio pneu.

Como é uma matéria apaixonante e algo extensa, vou dividi-la em duas partes: a primeira de caráter introdutório e focada nas motos de estrada e a segunda, a publicar posteriormente, mais orientada para as motos de aventura, enduro, motocross...

Um pouco de história

Não sabemos quando foi inventada a roda! Sabemos apenas que foi uma invenção genial e que mudou o mundo!

Se foram os chineses, os olmecas, os mesopotâmicos ou qualquer outro povo, nem sequer é relevante. Certamente que na época não existiam patentes e a sua utilização ter-se-á massificado à medida que ia sendo conhecida. Se era de pedra, madeira, se tinha um círculo de metal à volta ou não, também importa pouco... o facto é que se foi aperfeiçoando cada vez mais ao longo dos anos.

No entanto, a roda tal como a conhecemos hoje, é uma invenção bastante recente e com menos de 200 anos: segundo consta, só com o inventor escocês de nome John Dunlop (o apelido diz-vos alguma coisa?) é que foi patenteado, em 1888, o primeiro pneu com câmara de ar, destinado às bicicletas. Esta singela descoberta melhorou imenso a utilização das bicicletas, o desgaste dos pneus e até o conforto dos ciclistas…

Apenas 7 anos mais tarde, desta vez por intermédio de um Francês, de nome Édouard Michelin (certamente que o apelido também vos é familiar), a criação foi adaptada para o uso em automóveis e o avanço, daí para a frente, foi imparável: melhoraram os materiais, a qualidade das borrachas, normalizaram-se as dimensões e mesmo na atualidade mantém-se em constante evolução, sendo que as soluções costumam primeiro ser testadas na competição e depois passam para os veículos de produção. 

Ainda antes destes dois, em 1844, há a destacar o papel também pioneiro de Charles Goodyear (mais um apelido que todos conhecemos), responsável pelo processo de vulcanização da borracha, ou seja, através de um processo de calor conseguiu tornar a borracha muito mais resistente, elástica e impermeável… poderíamos ainda citar mais nomes como o de F.B. Goodrich (mais um apelido que ficou célebre) que melhorou  a longevidade da borracha pela adição de carbono, mas não vos queremos massacrar assim tanto...

Termino com uma das grandes invenções do século passado nesta matéria: os chamados pneus tubeless, que poderíamos traduzir à letra por “pneus sem câmara de ar”. Dada a falta de consenso sobre quem os inventou realmente, o que conta é que só começaram a ser usados a partir da década de 50 e a sua generalização levou décadas, mas representou um enorme avanço em termos de redução de furos, conforto, custos, comodidade, reparação e até de durabilidade dos pneus e respetivas válvulas, nas motos, automóveis, pesados, aviões...

Já nem nos vamos alongar sobre novas tecnologias, presentes em alguns automóveis, caso dos pneus run-flat, que lhes permitem continuar a ser usados, mesmo quando furados, mas voltemos às motos!

Tenho o pneu da moto furado! E agora?

Não vale a pena “cortar os pulsos”, nem mesmo que o furo tenha sido resultado da nossa inconsciência ou desleixo! Mas continuar a conduzir, ainda que mais devagar, pode não ser boa opção até porque existe um risco agravado de perda de controlo ou de danificar o pneu e até a própria jante/aro da roda! 

Se ainda assim o fizer, à sua conta e risco, tente posicionar o corpo mais sobre a roda não furada. Por exemplo, se furou à frente (menos comum) coloque o peso o mais possível atrás na moto e vice-versa. Se tiver furado ambos (pouco provável) simplesmente nem tente andar mais com o veículo!

A hipótese de ir empurrando até conseguir socorro tem riscos, sobretudo em estradas de má visibilidade e, pior ainda, de noite. Essa opção é proibida em auto-estrada e nada aconselhada com motos mais pesadas, embora possa melhorar a vossa forma física. Imaginem-se a empurrar numa subida uma moto com 300 kg e uma roda vazia? Eu não! Mais facilmente a via, era, a começar a descer! 

A possibilidade de reboque (por outra moto ou carro) é desaconselhada, dado os riscos inerentes, sendo apenas uma solução de último recurso.

Que fazer então? Nem todos são “mecanicamente inclinados” ou cuidadosos para trazer consigo e saber utilizar um kit anti-furo (geralmente composto por um spray que se coloca pela válvula (e se expande depois no interior da roda), além de que essa “espuma” pode não ser em quantidade suficiente para encher a roda, ou estar já fora da validade, ou o furo ser demasiado grande e o produto não o conseguir vedar.

No caso das rodas tubeless (presentes na maioria das motos atuais, sobretudo as de asfalto) existem kits de reparação muito práticos e simples, mas mesmo essa opção exige técnica: localizar o furo, retirar o objeto causador do furo, alargar o furo e tratar de o limpar, aplicar um taco para tapar o furo, cortar o sobrante (clique aqui para ver um vídeo sobre como reparar um furo com um kit de tacos) e mesmo que todo o trabalho seja feito com sucesso, falta ainda o mais importante: encher o pneu! 

De nada serve a sua reparação se não tiver um compressor, botija, ou qualquer outra maneira de o encher novamente!  Além disso, convém ter presente que os tacos, mesmo bem aplicados, representam sempre algum risco, nomeadamente em motos mais performantes em termos de potência e binário, havendo até quem defenda, simplesmente, mudar logo que possível o pneu e ponto final, mais ainda se for no traseiro… que é o que se fura com mais frequência!

No caso dos veículos com câmara de ar (nomeadamente as clássicas, ou muitas motos de aventura, com jantes de raios) a substituição da mesma ou o remendo a frio são soluções que podem até ser efetuadas no local, mas desde que se saiba o que se está a fazer (óbvio) e se tenha o material adequado para isso, incluindo uma forma de fazer encher o pneu novamente. 

Por opção, nunca uso e não recomendo que usem, câmaras de ar com remendos, mas é uma decisão pessoal! A minha lógica é furou… trocou!

Para boa parte das situações, sobretudo se estiverem sozinhos e os vossos dotes mecânicos forem como os meus dotes de culinária, a assistência em viagem é a melhor solução. Pode demorar um pouco mais, mas é prático e seguro. Fundamental é perceber que tipo de assistência em viagem contrataram! Não se vá dar o caso de terem contratado uma daquelas mais baratinhas que só começa a ser válida a partir de 50 km do vosso domicílio habitual… e necessitam dela a 15 km de casa!

Resumindo, se vos acontecer essa situação, não percam a calma, nem o sangue frio, sobretudo se for em andamento, nada de reações bruscas. Parem logo que possível, avaliem o que podem fazer, qual o vosso leque de opções e, se rodarem em grupo, será ainda mais simples e fácil encontrar uma solução. 

Nunca parem a moto num local sem visibilidade e garantam que fica sempre estacionada de forma segura e estável… não se vá dar o caso de tombar e ser mais um trabalho extra a fazer!

Ainda uma dica: se perceberem que o pneu está perder ar (furo lento) e localizaram a causa (por exemplo, um parafuso ou um prego) não caiam na tentação de o retirar logo! Fazer isso pode causar com que o pneu esvazie de imediato e vos impeça de  ir pelos vossos próprios meios até encontrar socorro!

Prevenir é o melhor remédio

Prevenir é a melhor opção, pois há formas de reduzir a probabilidade de termos um (ou mais) furos. Deixo aquelas que considero as dicas mais relevantes para o uso “asfáltico” e menos aventureiro:

Pneus em bom estado: esta é óbvia! Se estão ressequidos, gastos, nas lonas, com arame à vista, bolhas… é trocar rapidamente e ponto final! Não há argumentação possível! Com a segurança não se brinca! além disso, fujam de pneus de marcas duvidosa e tenham atenção à data de fabrico. Está inscrita na lateral, geralmente dentro de um círculo, a chamada referência DOT que é obrigatória. 2 Dígitos para o mês e 2 para o ano. Exemplo 2519 significa que o pneu foi produzido na semana 25 de 2019. Tem que constar em todos os pneus!

Pressão correta: Nas motos com mais tecnologia, ter o sistema de monitorização permanente a da pressão de cada roda, é uma benção. Para quem não tem, nada substitui as verificações regulares ou pelo menos a palpação regular. Relembro que a pressão não é a mesma com e sem carga e dou uma dica que pode parecer algo estranha para alguns: um pouquinho de pressão acima do recomendado ajuda a prevenir furos! 

Já agora, um pequeno medidor de pressão  portátil, é baratuxo, e mesmo que não seja 100% fiável, tal como não são os da maioria dos postos de abastecimento, é melhor que nada!

 A pressão deve ser medida a frio e regularmente, pelo menos uma vez por mês. Para uma medição com um pneu quente, diminui-se cerca de 0,3 bar para obter a pressão equivalente a frio. Já agora, 1 bar (unidade de medida mais usual na atualidade) equivale a cerca de 14,5 psi.

Fugir das ratoeiras: o caso mais flagrante é, provavelmente, as bermas das estradas. Sabemos que é ilegal, mas pode dar jeito. A questão é que as bermas são a zona mais “suja” da via, e o risco de furar aumenta exponencialmente. Situação similar com as “crateras” que abundam nas nossas estradas, capazes de empenar ou partir uma jante ou aro, ou com os passeios e arestas “vivas” que facilmente causam um corte, qu pode originar rebentamento ou até “descolar” o pneu da jante.

Evitar pneus usados/recondicionados: é uma matéria pouco pacífica, sobretudo em tempos de crise, agravada pelo facto de os pneumáticos novos serem caros. Além disso, não existe legislação que regulamente esta matéria e proteja o consumidor. Sei que todos temos que ganhar a vida, mas não uso, nem recomendo a utilização de pneus que já circularam antes. Podem estar aparentemente bons, mas terem sofrido danos não visíveis, nomeadamente embates, que podem ter maltratado a carcaça do mesmo e podem falhar na pior altura.

Poupar com racionalidade: a escolha dos pneus é fundamental, mas não se resume tudo a isso. Importa saber quem faz o serviço: São cuidadosos no processo de troca? Usam ferramentas adequadas, nomeadamente uma chave dinamométrica para os binários de apertos corretos? A qualidade do serviço é importante e justifica pagar-se um pouco mais.

Escolher os pneus adequados: termino com esta. Se uso a mota 100% no asfalto não faz sentido ter uns pneus com tacos ou, pior ainda, pneus com a indicação “uso proibido em auto-estrada”. Se gosto de fazer umas curvas de montanha a ritmos mais animados… talvez o pneu mais duro e com a mistura mais duradoura não seja a melhor escolha. Se, de vez em quando, faço uns track-days a opção deve passar por ter uns pneus apenas para esse efeito, e assim sucessivamente...

Vamos ficar por aqui. Na parte II, que publicarei em breve, vou abordar as borrachas na perspetiva de quem usa a sua mota de forma mais aventureira, seja em viagens mais longas, trilhos de enduro, pistas de motocross... Falaremos de mousses (não de chocolate), tubliss, tire balls, câmaras reforçadas...


https://www.andardemoto.pt/opinioes/48292-prevenir-e-evitar-furos-numa-moto-parte-i/

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