A paixão pelas motos passa com a idade?
Nunca acreditei no “Estou velho de mais para…”. Para mim sempre foi inconcebível deixar de fazer algo ou estabelecer um objetivo ambicioso porque a sociedade diz que “já não temos idade para isso” ou porque “parece mal”. Mas se calhar, por vezes abandonamos algumas ideias ou comportamentos porque a idade nos obriga a redefinir prioridades, a desacelerar e a encontrar novos amores.
Tenho pensado muito neste assunto durante os meus “monólogos de capacete”, talvez porque cada vez mais oiço a frase: “Eu também gostava muito de motos, mas já me deixei disso.” As respostas ao meu incrédulo “porquê?” não variam muito:
- Já não tenho idade para essas loucuras.
- Já não tenho paciência para andar todos os dias. Só faço passeios de vez em quando.
- Agora prefiro o conforto do carro.
- Isso era noutros tempos, quando não me importava de apanhar chuva.
- Antes não tinha medo de morrer, e agora tenho.
- Etc, etc…
Percebo que recordam com saudade esses tempos. Falam-me nas melhores aventuras e viagens da vida, de momentos de diversão e prazer.
– “Mas e não volta?” “Agora já não.”
É este “agora já não” que me intriga, e me assusta um pouco. Eu não quero falar de motos no passado, dizer “eu também já fiz isto”, guardar fotos da moto no telemóvel e mostrá-las de forma triste e saudosista - como aqueles pais que choram pelos filhos bebés (que entretanto já têm 30 ou 40 anos), e mostram as fotografias das suas fofas bochechinhas aos amigos e desconhecidos que apanham nos centros de saúde (qualquer semelhança com a vida real é pura coincidência).
Não quero deitar fora a minha bucket list de viagens pelo mundo em duas rodas, porque já não tenho idade, ou simplesmente perder esta paixão que me deixa feliz.
A paixão passa com a idade? Conheço alguns grandes exemplos de pessoas com mais idade que inclusive aproveitam este período provavelmente menos conturbado da vida (filhos criados, sem compromissos) para os passeios mais longos e as viagens desejadas, em cima daquilo que sempre chamei de “motos de velho”.
Por favor não me insultem, não tem sentido pejorativo, antes pelo contrário. São apenas aquelas motas mais caras, mais confortáveis, mais sofisticadas, imponentes, que quase se conduzem sozinhas, e que (por regra) só conseguimos comprar quando temos alguma estabilidade na vida (dinheiro, quero eu dizer). Daquelas que vemos na rua e dizemos: “Quando for grande quero ter uma destas.”
Mas até estes meus bons exemplos me dizem que agora só vão aos passeios. A moto só sai da garagem de vez em quando. No dia-a-dia, só de carro. As filas já não interessam, o estacionamento também não, e o prazer guarda-se para os eventuais passeios. Está frio, conduzir à noite já não tem piada, e a paciência é cada vez menor.
Mas os ocasionais passeios, esses rejuvenescem. Recordam velhas aventuras e criam novas memórias. Se calhar a paixão, que nos alimenta as loucuras, não desaparece. Apenas dá lugar ao amor, que nos deixa apreciar as coisas de outra forma.
Não me vejo a trocar o capacete pelo ar condicionado do carro. Se calhar, daqui uns anos, as artrites, artroses, reumatismos e todos os extras que vou eventualmente receber vão fazer-me mudar de ideias. Se assim for, nessa altura espero já ter a tal estabilidade (€€€) e a minha “moto de velha” para fazer aquelas viagens pela Europa que tanto quero fazer. Até lá vou rodando punho todos os dias, à chuva e ao sol, e seguindo os meus bons exemplos em busca de inspiração.
Boas curvas
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