O BONDE
Viajar de moto – sozinho ou num bonde, como são chamados os grupos de motos em comboio nas estradas, é um dos maiores prazeres que estas nossas lindas jóias sobre duas rodas proporcionam. Encarar a estrada e ser parte da paisagem, com a sensação de liberdade que só uma motocicleta pode proporcionar está entre os motivos principais para que alguém decida comprar uma moto.
Mas para muitos motociclistas, andar em grupo na estrada não é uma experiência prazerosa e, bem ao contrário, pode ser uma verdadeira tortura. Sobretudo se o grupo for grande, com 20, 30 e até 40 motos. Pergunte para a maioria dos seus amigos que viajam de moto e você ouvirá uma resposta quase unânime: um pequeno grupo é o ideal, não mais do que 5 ou 6 motos.
A alegação para isso normalmente passa por perda da individualidade, obrigação de andar num ritmoque não é o seu, fazer paradas para descanso diferentes do que se considera ideal e por aí vai. Andar em grupo não é fácil. Há que ter disciplina, seguir regras e muitas vezes fazer coisas que você não faria, tudo para seguir o Bonde e não colocar nenhum de seus integrantes em risco.
Bonde pequeno: 50 motos
Motonline foi convidado (e aceitamos, claro) para viajar ao National H.O.G.® Rally 2017 no bonde da ABA São Paulo Chapter Brasil junto com outros colegas jornalistas. O evento aconteceu no feriadão de 7 de setembro em Foz do Iguaçu (PR) e o primeiro pensamento que me veio à cabeça logo foi tudo aquilo que mencionei no parágrafo anterior: vou andar num ritmo que não deve ser o meu, terei que seguir um monte de regras de conduta e até fazer coisas que possivelmente não considero ideais.
Apesar desse pensamento de contrariedade, esta seria a oportunidade de conhecer por dentro como funciona um Chapter do H.O.G.® e claro, fazer uma viagem diferente das que estamos acostumados a fazer, com um grupo que teria em média 50 motos e por 1.100 km! Realmente valia a pena o esforço e a suposta perda da individualidade e blablablabla.
Mas minhas suspeitas não se concretizaram. O esquema bem treinado e rigorosamente executado pelos Road Captains do grupo sob a direção de Wilson Osawa colocou o bonde na estrada em bom ritmo e total segurança, além de muito organizado em todos os pontos mais críticos, como pedágios e paradas para abastecimentos. Realmente um trabalho profissionalíssimo e muito bem executado.
Viajei com uma Harley-Davidson Street Glide CVO, uma das motos de maior destaque da família touring da marca, que conta com tudo e um pouco mais em se tratando de conforto para viagens. Ah, e um som de fazer inveja a muitos carros. Mas o foco aqui não é falar da moto, mas do bonde, que partiu de São Paulo no dia 6/9, às 7:00. Aqui fazemos um parentese para explicar que cada concessionária da marca estabelece um Chapter do H.O.G.® e todas montam seus bondes para participarem do National H.O.G.® Rally.
Isso significa que no caminho até o destino, vários bondes vão se cruzando e até se misturando, sobretudo nas paradas para abastecimento. Por isso todos os Chapters contam com seus Road Captains que organizam tudo e não deixam qualquer detalhe esquecido durante a viagem. E cada Chapter monta o seu bonde e coloca quantos Road Captains achar necessário.
14 Road Captains no bonde
No caso do bonde da ABA São Paulo Chapter Brasil, foram 14 Road Captains que fizeram todo o trabalho, inclusive o planejamento anterior à viagem, fazendo o percurso e mapeando todos os pedágios e locais de parada mais adequados. Vale lembrar ainda que esse trabalho é voluntário e que algumas funções foram instituídas pelo próprio HOG ABA. “Ao longo do tempo sentimos a necessidade de garantir mais segurança aos motociclistas no bonde e surgiram as posições de ‘Limpa Trilho’ e ‘Olheiro’, explica Flávio Mamone, um dos líderes do Bonde da ABA para Foz do Iguaçu.
- OLHEIRO – Sua função é observar as condições da estrada (asfalto, entradas, pontes, desvios, trânsito, acidentes) e vai à frente do bonde em média a uma distância entre 1 a 2 km, avisando o líder pelo rádio para decisões antecipadas;
- LIMPA TRILHO – Sua função é limpar a frente do bonde, solicitando a veículos que se desloquem para outras faixas de rolagem, evitando o efeito “elástico”, com freadas e esticadas desnecessárias e ultrapassagens perigosas;
- LÍDER– Seu objetivo é conduzir o bonde, define a velocidade, faixa de rolagem, ultrapassagens, trajeto, paradas, etc. Nesta função o RC precisa ter conhecimento absoluto do trajeto a ser percorrido e suas decisões são apoiadas nas informações de todos os outros RCs da equipe;
- 2º e 3º – Seu objetivo é manter o bonde coeso, dentro do ritmo e das regras, para evitar manobras arriscadas ou mudanças de faixa. Ajudam o líder a que suas decisões sejam seguidas à risca;
- SERRA FILA – É o último RC do bonde e seu objetivo é dar orientação ao bonde através das informções importantes ao líder devido a sua posição privilegiada com vista para todos os integrantes do bonde, inclusive protegendo o bonde contra veículos mais “afoitos” que podem gerar certo risco à segurança do grupo;
- SAFETY 1 e 2 – São dois RCs que tem como objetivo principal auxiliar os integrantes do bonde caso necessitem em uma eventual parada não programada. Sua função é acompanhar este integrante do bonde até a total solução do problema;
- PONTE DE RÁDIO – Faz a interligação da comunicação entre o “Serra fila” e o “Líder”, e também auxilia na condução do miolo do bonde, evitando grandes espaços entre as motos e mudança de faixa. A quantidade de !pontes”, veículos que possam entrem no bonde, etc. A quantidade de “Pontes” é determinada pela quantidade de motos no bonde;
- EQUIPE DE PEDÁGIO – O objetivo destes RCs é garantir a passagem segura do bonde pelas praças de pedágio. São duas equipes de dois RCs cada que seguem na frente do bonde, chegando nas praças com vários minutos de antecedência para negociar a passagem do bonde, efetuar a contagem das motos e posterior pagamento. O ABA São Paulo Chapter Brasil costuma enviar ofícios com dias de antecedência para as concessionárias das estradas solicitando a passagem.
Bom, com todo esse esquema de apoio, planejamento e organização, nem preciso dizer que fizemos uma viagem tranquila, sem stress e com total segurança, mesmo nos trechos mais sinuosos, de pista única e cheio de caminhões na região oeste do Paraná. Foi realmente uma verdadeira aula sobre como viajar de moto em grupo.
Por fim, essa experiência deixa claro para mim que aquela expectativa de perder minha individualidade, andar num ritmo que não é o meu, de seguir um monte de regras e de fazer coisas que não considero ideais continha uma boa dose de preconceito pelo absoluto desconhecimento de como funcionam as coisas com outros grupos de motociclistas. E mais uma vez está provado que planejamento e organização devem ser acompanhados de uma perfeita execução.
https://www.motonline.com.br/noticia/o-bonde/
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