Revisitando o Atacama 2018
Revisitando o Atacama 2018
Passados nove anos de nossa primeira passagem pelo deserto do Atacama, resolvemos refazer o mesmo percurso de 2009, apenas para curtir um pouco de estrada e também para a mais nova Cuturneira (Paula) ser apresentada a Cordilheira dos Andes. Optamos pelo mesmo percurso, no mesmo sentido, apenas com uns pontos diferentes para pernoite. Sabidamente iremos enfrentar algumas situações novas, seja pelo dinamismo da mãe natureza, seja pela época do ano menos apropriada para viajar em moto pela região andina em que nos encontraremos no retorno.
Quinta (01/02/2018)
Dia 01: Passo Fundo (RS) – Quaraí (RS) – 667 km
Ao sair de casa pela manhã, com temperatura nos agradáveis 21°C, o hodômetro da moto apontava modestos 2.146 km, marcando a iniciação de minha nova companheira de longas viagens, uma Suzuki DL 650 V-strom XT ano 2018.
A primeira parada para abastecimento foi em Santa Maria, foi onde avisei ao amigo Eder Velasque, do Campanas Moto Grupo de Alegrete, que passaria em sua cidade para dar um abraço e trocar algumas palavras. Cheguei aos pagos alegretenses por volta das 14 h, o Eder me aguardava na entrada da cidade para me guiar até sua casa, onde fui recebido com muita camaradagem e um lindo arroz com linguiça campeira. Depois do banquete e de muita prosa com amigos e a família do Eder, tiramos algumas fotos na frente de sua oficina e continuei a viagem com destino à cidade onde programei a pernoite.
Com o termômetro batendo na casa dos 39 °C cheguei a Quaraí, cidade que faz fronteira com a uruguaia Artigas. Sem muita dificuldade encontrei a antiga casa de meu tio Ferrari onde fiquei hospedado. Fiz esta volta mais longa para matar um pouco de tempo, pois o Sérgio sairia de Porto Alegre somente no dia seguinte mas, principalmente, para rever este tio que a muitos anos não tinha contato, desde a morte de minha tia Norma, irmã de minha mãe. Com este ramo da família, desde minha infância, passei muitos verões juntos no saudoso balneário do Hermenegildo, situado no extremo sul do Rio Grande do Sul, na cidade de Santa Vitória do Palmar.
Ainda com dia claro, fomos eu e minha prima Patrícia até a aduana conjunta para realizar meus trâmites de entrada no Uruguai. Mesmo não realizando a entrada por Artigas resolvi carimbar o passaporte nesta tranquila fronteira, pois já estaria livre de tal procedimento no dia seguinte e poderia apenas cuidar dos equipamentos enquanto o Sérgio e a Paula realizavam a saída na nova aduana.
A muito tempo também não via a Patrícia, aproveitamos assim para colocar a prosa em dia e dividir algumas latinhas de cerveja na varanda da casa até tarde da noite.
Sexta (02/02/2018)
Quaraí (RS) – Trinidad (Uruguai) – 476 km
Saí de Quaraí por volta das dez horas da manhã e a temperatura ainda estava agradável. Passei uma barreira do exército e segui passeando pela bela BR 293. A muitos anos eu ouvira notícias sobre zonas de arenização na campanha gaúcha e agora pude conferir com meus próprios olhos onde as verdes pastagens que servem para engordar o gado deram origem a inférteis trechos de areia em meio ao bioma Pampa.
Esta arenização é um processo natural, não confundir com desertificação. Para explicar melhor copio abaixo um texto de autoria de Rodolfo Alves Pena, de seu trabalho “Arenização na Região Sul”:
“Na região sul do Brasil, mais precisamente no estado do Rio Grande do Sul em sua porção sudoeste, existe um problema ambiental que vem se agravando ao longo do tempo: a arenização. Trata-se da formação de bancos de areia em solos predispostos para essa ocorrência, o que ocasiona o esgotamento das áreas agricultáveis e a consequente perda da vegetação e de nutrientes.
É muito comum que se confunda o processo de arenização com o de desertificação. No entanto, trata-se de fenômenos basicamente diferentes, pois a desertificação corresponde à degradação dos solos em regiões de clima árido e semiárido, que possuem índices de precipitação inferiores a 1400mm anuais e menores do que os índices de evaporação.
No Rio Grande do Sul, o clima, que é o subtropical, apresenta índices de chuva maiores e a precipitação é maior do que a evaporação. Portanto, não existe desertificação no sul do Brasil, processo que acontece na região Nordeste do país. As chuvas, inclusive, exercem um papel importante no processo de arenização, algo que não acontece no fenômeno da desertificação.A arenização na região Sul ocorre pela soma de alguns fatores: a predisposição dos solos, que são naturalmente arenosos; o uso intensivo deles na agricultura; a remoção da vegetação e a retirada de nutrientes. Com o desmatamento das áreas para a agricultura, os solos ficam mais expostos à ação das chuvas, que auxiliam na sedimentação e movimentação dos sedimentos, que, por sua vez, dão origem aos areais que recobrem os solos e tornam a paisagem, em muitos casos, semelhante a áreas de deserto.Vale lembrar que a arenização é um processo natural e sua ocorrência no Rio Grande do Sul possui vários registros históricos. No entanto, a intensificação da agricultura nessa região ao longo do século XX contribuiu para uma intensificação sem igual desse problema, que se tornou crônico em boa parte do espaço geográfico local. Portanto, além de conservar as áreas de solos arenosos, é preciso tomar medidas de atenuação dos impactos, como o cultivo da vegetação e fertilização das superfícies.”
Ainda na parte da manhã cheguei a Santana do Livramento e, mesmo sabendo o caminho mais fácil que seria até o entroncamento com a BR 158, resolvi dar uma chance para o GPS e entrei por uma entrada secundária. Esqueci-me de um pequeno detalhe: mesmo sabendo como chegar ao posto combinado pela BR 158, eu não tinha ideia do endereço do mesmo para colocar as coordenadas no GPS. Perdi um bom tempo até encontrar um ponto de referência conhecido e achar o ponto de encontro com o Sérgio e a Paula.
Fizemos de um lanche o almoço e seguimos para a aduana. Com forte calor pegamos o rumo da Ruta 5 e tocamos até a cidade de Durazno, onde viramos a direita para seguir a Trinidad.Assim que chegamos já paramos num posto do centro para abastecer e, utilizando a internet do estabelecimento, liguei ao Ruben, nosso anfitrião no dia de hoje.
A noite foi de boa conversa com os amigos uruguaios, excelente cerveja de litro e um costelão de 9,5 kg acompanhado de “arrollados de cordero” (intestinos enrolados de ovelha). Aproveitamos também para discutir sobre o caminho a seguir no dia seguinte, pois a estrada que estávamos habituados a usar estava em péssimas condições (Ruta 57 para pegar a Ruta 2), praticamente sem a camada asfáltica. A opção nos dada para chegar a Fray Bentos, onde sairíamos do Uruguai, seria pela Ruta 3 virando a esquerda na Ruta 20. A distância era praticamente a mesma, o caminho está em boas condições salvo alguns pequenos trechos da 20 que estavam em reparos.
Sábado (03/02/2018)
Trinidad (Uruguai) – Venado Tuerto (Argentina) – 651 km
Ainda muito cedo o Rubens nos guiou até a saída da cidade, nos deixou na Ruta 3, por onde devíamos seguir até achar a placa indicativa da Ruta 20. Segundo o nosso mapa, esta saída deveria estar alguns quilômetros após a localidade de Andresito, já na província de Rio Negro. Achamos a tal saída, apenas com o detalhe que a placa indicava Ruta 24. Seguindo as informações coletadas ontem e o mapa que dispúnhamos, ignoramos a indicação do GPS e dobramos aí mesmo. Acertamos o caminho e, depois de alguns poucos trechos ruins, alcançamos a boa Ruta 24 que nos levou até a Ruta 2 e, finalmente, até a fronteira com a Argentina.
Havia poucos carros na fila para entrar na Argentina, nossos trâmites foram rápidos e os agentes muito cordiais. Em contrapartida, a fila no sentido contrário, da Argentina para o Uruguai, era muito longa, chegava atravessar a ponte sobre o rio Uruguai e continuava em solo argentino. O calor continuava forte, passamos por Gualeguaychú, Gualeguay, Victória, Rosário e chegamos cedo a Venado Tuerto.
Depois de fazer o check-in no hotel Mirô, já um velho conhecido nosso, descemos ao bar para nos refrescar com uma cerveja e fazer um lanche. Logo saímos para caminhar pelo centro da cidade e passamos em frente a uma loja de artigos esportivos; o Sérgio teve interesse num tênis e resolveu parar para perguntar o preço, para nossa surpresa fomos atendidos por um brasileiro que vive já a alguns anos nesta cidade. Depois de comprar o tênis e de uma boa conversa com o brazuca, retornamos ao hotel para jantar.
Hotel: Mirô Park Apart Hotel, Rua Chacabuco 915, www.miropark.com.ar
Domingo (04/02/2018)
Venado Tuerto - Mendoza (Argentina) – 723 km
Hoje foi um dia sem grandes novidades, usamos um caminho habitual que nos leva a Mendoza. Após sair da Ruta 33 na localidade de Rufino, percorremos a Ruta 7 passando por Villa Mercedes e San Luís até chegar a Mendoza. No caminho paramos apenas para abastecer, descansar e tomar água. Em alguns momentos da viagem o termômetro de minha moto acusou 41 °C de temperatura ambiente.
Ao chegar a Mendoza fomos direto ao conhecido Hotel América, de fácil localização e acesso. Após acomodar nossas coisas nos quartos verificamos que a qualidade do hotel havia caído substancialmente, estava bem pior desde a nossa última passada aqui em julho de 2011. Para ser mais preciso, antigamente figurava no site como 3 estrelas mas agora aparecem apenas 2 (o que é um exagero !). Também fomos obrigados a procurar um posto de gasolina mais distante, pois o que ficava próximo ao hotel estava sem combustível. Após tudo arrumado para nossa partida no dia seguinte, tomamos um bom banho e saímos caminhando para procurar um local para jantar. Fomos até a “parrillada” El Asadito, sugerida pelo pessoal do hotel mas, como esta ainda estava fechada, ficamos tomando uma cervejinha artesanal em um pub adjacente. Assim que o restaurante abriu “caímos para dentro” e pedimos uma parrilada completa. Normalmente quando pedidos alguma bebida nos bares e restaurantes argentinos, também é servida uma porção de “mani” (amendoim) para acompanhar a cerveja. Neste caso, o restaurante serviu um delicioso bucho a vinagrete e pão para acompanhar a geladinha. Recomendo a novidade!
Ao retornar para o hotel ficamos sabendo que houve um aluvião na cordilheira e que a estrada estava cortada logo após Uspallata. Fomos dormir apreensivos com a notícia, pois nossa passagem ao Chile estava temporariamente bloqueada por metros de lama e pedras e não tínhamos muito tempo de sobra caso a liberação da estrada demorasse muitos dias.
Hotel: América, av Juan B Justo nº 812, fones 261 4258284/ 4231477/ 4254022, www.hotelamericamza.com.br
Segunda (05/02/2018)
Mendoza – Potrerillos (Argentina) – 68 km
Este seria outro dia de pouca quilometragem. Acordamos e calmamente tomamos nosso café no hotel enquanto assistíamos as notícias sobre o tal aluvião. Nada era agradável (nem o café), a estrada continuava bloqueada e não havia previsão para liberação. Não estava em nossos planos passar mais um dia em uma cidade grande como Mendoza e então começamos a pedir sugestões ao pessoal do hotel como também a outros hóspedes que estavam mais acostumados com estes cortes de estradas. Sugeriram-nos seguir viagem e aguardar no bloqueio, pois em breve a estrada estaria liberada. Foi o que fizemos.
Seguimos viagem e assim que saímos da Ruta 40 em direção ao Paso Internacional já nos deparamos com a primeira barreira. O pessoal do hotel avisou que talvez já tentassem nos bloquear aí e que deveríamos dizer que estávamos nos deslocando apena até Uspallata. Novamente seguimos a orientação dos argentinos e falamos ao gendarme que iríamos pernoitar em Uspallata, depois de certa desconfiança ele acabou nos liberando para o caminho desejado. Enquanto isso, o grosso do fluxo de veículos aguardava ou retornava deste ponto.
Ao chegarmos a localidade de Potrerillos havia outra barreira e aí nossa conversa não funcionou. Depois de dizer que íamos para Uspallata, o policial perguntou se havíamos feito reserva em algum hotel, pois a cidade estava um caos devido ao bloqueio e que não havia mais vaga na rede hoteleira. Com receio que ele fosse checar a reserva, confirmamos que não tínhamos a mesma e resolvemos aguardar a liberação. Saímos da fila, abastecemos as motos no posto local, comemos algumas coisas na loja de conveniência e aguardamos. Já era de tarde quando resolvemos checar novamente a situação e, mais uma vez, fomos informados que não havia previsão. Neste momento o policial avisou que havia um hotel ali perto caso desejássemos aguardar na região. Pareceu-nos uma boa ideia, pois Potrerillos está localizada às margens de um belo dique e aos pés da Cordilheira dos Andes.
Então... achamos o tal hotel...era o Gran Hotel Potrerillos. Assim que chegamos ao pórtico da entrada já nos olhamos desconfiados, pois a estrutura do hotel era algo bem superior ao que estamos acostumados a usufruir e pagar. Mesmo assim entramos e nos dirigimos à recepção. Os preços estavam estampados em uma tabela sobre o grande balcão na entrada, mesmo assim me fiz de louco e perguntei. O atendente, educadamente, apontou para a tabela. Neste momento começamos a conversar, eu e o Sérgio, sobre os valores. Foi quando o rapaz notou que éramos brasileiros e nos informou de uma lei para fomentar o turismo e que daria um bom desconto se pagássemos com cartão de crédito pois assim poderia retirar todos os impostos já que éramos estrangeiros. Fizemos umas contas e resolvemos encarar.
Já estavam hospedados no hotel uma grande turma de motociclistas portugueses, uma galera bem viajada e com grandes motos. Já haviam realizado longas e difíceis viagens pela Africa e Sibéria, uma turma muito bacana e com quem travamos boa conversa durante nossa estada por lá. Como estavam subindo a América, voltaríamos a nos encontrar mais algumas vezes pelo caminho. Mais tarde também chegou ao hotel um casal de austríacos, cada um pilotando a sua moto. O hotel é uma construção de 1942, possui excelentes acomodações com vista para o lago e para a Cordilheira, também dispõe de um bom restaurante com uma providencial adega onde podemos provar ótimos vinhos regionais e de produções exclusivas. Entre as atrações do lugar, está um modesto vinhedo composto quase que em sua maioria de uvas Malbec, as mais tradicionais uvas argentinas.
Ao final da tarde o tempo fechou novamente na região, a chuva insistia em cair nas grandes altitudes da Cordilheira. Ao longe percebíamos a neve formando-se nos picos mais altos das montanhas, quanto mais escura a nuvem que pairava, mais branca ficava a montanha. Chovia também onde estávamos, mas uma chuva calma e gelada, nada parecido com as tormentas que rolavam em alta montanha.
Depois de um agradável dia no hotel e de um excelente jantar, regado ao melhor Malbec que consumimos na viagem, nos recolhemos para dormir, rezando para o tempo acordar com outro humor amanhã.
Hotel: Gran Hotel Potrerillos, Ruta nacional 7, Km 50, Luján de Cuyo www.granhotelpotrerillos.com
Terça (06/02/2018)
Potrerillos (Argentina) - Santiago (Chile) - 310 km
Acordamos cedo, o sol brilhava e o paso ao Chile já estava liberado desde as 16:30 h de ontem. Comemorávamos a notícia enquanto apreciávamos o delicioso café do hotel.
O trajeto seria sem grandes novidades, porém como estávamos com a Paula debutando na Cordilheira, seguimos devagar e parando nos principais pontos turísticos do caminho. A primeira parada foi em Uspallata para abastecer, depois Puente del Inca e no mirante do Aconcágua.
Quando chegamos ao complexo fronteiriço nos deparamos com uma imensa fila de carros. Eles estavam um pouco mais preparados para receber o grande movimento de turistas, havia várias cabines para realizar os trâmites de entrada e a demora ficou restrita a "apenas" 2 horas. Trocamos alguns dólares por pesos chilenos no câmbio da aduana e seguimos viagem parando ainda para fotografar no lago do Inca (Hotel Portillo) e nos caracoles. Neste câmbio existente na aduana nos passaram uma nota rasgada de 20 mil pesos em meio as demais, fato que gerou uma grande dor de cabeça, pois somente aceitaram ela no penúltimo dia de viagem. Então, sempre muita atenção com isto!
Um grande complexo aduaneiro estava sendo construído na fronteira para substituir o antigo galpão, acredito que em pouco tempo estará pronto e seremos mais bem atendidos, não necessitando, como já aconteceu em algumas vezes, aguardarmos 4 horas para fazer a entrada no país. Mesmo não precisando de combustível, paramos no posto de Guarda Vieja para abastecer e comer algo, pois o horário já estava adiantado e continuávamos enganando a barriga com barras de cereal. Só tinha gasolina, a lancheria do posto fechou. Seguimos adiante e paramos na entrada de Santiago num grande posto de combustível localizado no meio das autopistas, aí sim, matamos o que estava nos matando (a fome).
Combinei com o Juan sobre nossa chegada, ele foi nos esperar em outra saída da autopista Américo Vespúcio pois a principal e que eu estava acostumado a usar, estava em obras e com muitos desvios.Chegamos ao meio da tarde, descansamos, lavamos algumas roupas e, durante a noite, desfrutamos da companhia de alguns amigos enquanto o Juan assava um excelente churrasco.
Quarta (07/02/2018)
Santiago - Vallenar (Chile) 678 km
Nossa passagem pela capital dos chilenos foi abreviada pelas chuvas na cordilheira. A ideia inicial seria passar um dia na capital para visitar alguns atrativos e trocar moeda, mas manter o cronograma exigiu que retomássemos a viagem rumo ao norte hoje mesmo. O amigo pode até me perguntar: "Mas para que a pressa?" Explico: Quando fazemos um roteiro, já colocamos alguns dias extras para resolver algum infortúnio, seja ele climático, mecânico ou de saúde. Como temos um dia determinado para voltar ao trabalho não convém queimar este dia já no começo da viagem, foi somente por prudência e por saber que a travessia do Paso de Jama durante o retorno pode reservar algumas surpresas meteorológicas.
Novamente o Juan acompanhou-nos até a saída da comuna de Maipú e então aceleramos pela Ruta 5 em direção ao norte do Chile.
O trajeto até no destino de hoje foi sempre por uma bela autopista, ora em meio ao deserto, ora margeando o Oceano Pacífico, sempre com lindas paisagens. Abastecemos nas localidades de Palo Colorado, Termas de Socos, La Serena e, por último, na entrada de Vallenar, cidade que escolhemos para pernoitar. Seguindo o mapa mental que eu havia traçado na noite anterior com a ajuda do Google e o essencial GPS, facilmente encontramos o local em que havíamos feito reserva, um modesto hotel localizado no centro de Vallenar, com piscina e alojamentos onde as motos ficavam estacionadas próximas ao quartos, facilitando nossa vida na hora de carregar a bagagem.
Jantamos ao lado do hotel, um excelente bife acompanhado de algumas cervejas de marcas variadas.
Hotel: Cecil, Rua Arturo Prat nº 1059, centro. Diária single Us$ 50,00 e casal Us$ 60,00.
Quinta (08/02/2018)
Vallenar - Antofagasta (Chile) - 675 km
Outro dia que deveria ser curto e rápido. Pela manhã ainda fazia frio no deserto quando colocamos as motos para rodar na Panamericana.
Tocamos direto até Copiapó, onde paramos para abastecer e também para procurar o Museu Regional do Atacama. Como eu já havia pesquisado anteriormente na internet, foi muito fácil encontrar, pois o mesmo está a apenas uma ou duas quadras afastado da Ruta 5 e muito próximo do posto em que paramos para abastecer. Nossa intenção era conhecer um pouco mais da história da região como também ver a cápsula Fênix2, aquela que foi construída para resgatar os 33 mineiros que ficaram presos 70 dias na mina San José localizada próxima a Copiapó. Encontramos o museu interditado por causa do banheiro! Sim, isso mesmo, conforme um termo oficial que estava fixado à porta do museu, este foi interditado pois o banheiro não oferecia mais condições de uso.
Incrédulos, seguimos viagem. Passamos ao largo de Bahia Inglesa e Caldera e logo paramos para descansar e tirar algumas fotos junto ao Pacífico em uma pequena praia chamada Rodillo. Próximo a Taltal deixamos a Ruta 5 de lado e pegamos a Ruta 1, uma deliciosa novidade para nós. Durante a outra viagem que fizemos por aqui, este trecho da Ruta 1 ainda não estava asfaltado e então optamos seguir pela Ruta 5, cortando o deserto do Atacama ao meio. A Ruta 1 acompanha o Oceano Pacífico por um bom trecho até a localidade de Paposo. Uma bela estrada, muito mais atraente que aquela que passa pelo meio do deserto. Chegando a Paposo iniciamos uma longa e forte subida, deixamos para trás o Pacífico e voltamos ao coração do Atacama pela Ruta B 70. Ao chegarmos ao entroncamento com a Ruta 5, voltamos cerca de 20 quilômetros ao sul para revisitar o monumento Mano del Desierto. Após virar novamente as motocas rumo ao norte, andamos mais 70 km e chegamos a Antofagasta, por volta das 19 h. Abastecemos as motos e nos atiramos no primeiro hotel que encontramos à beira da praia, pois nossa intenção era curtir um pouco da cidade, apreciar a gastronomia e o lindo por do sol no mar.
Depois de curtir o espetáculo do astro rei, fomos ao mercado comprar algumas coisas para a viagem de amanhã e logo procuramos um lugar para comer próximo ao hotel. Encontramos um belo restaurante de três andares à beira-mar. Deliciei-me com um bom chopp Patagônia Amber Lager e um tradicional ceviche no restaurante Elmas.
Hotel: Holliday Inn Express, av Grécia nº 1490, diária em quarto single para turista estrangeiro (sem IVA) Us$120,00.
Sexta (09/02/2018)
Antofagasta - San Pedro de Atacama (Chile) - 313 km
Mas bah tchê, o preço do hotel até que foi salgadinho, mas em contrapartida o café da manhã foi de patrão e com vista para o mar.
Hoje foi um dia sem muitos atrativos, cortamos o deserto de oeste a leste em direção a San Pedro de Atacama. Novamente andamos por uma excelente pista dupla até o entroncamento da Ruta 25. Paramos para fazer algumas fotos em um petroglifo, no marco do Trópico de Capricórnio e numa placa que sinalizava que estávamos sobre a Estrada Panamericana. Nesta última parada, enquanto fotografávamos, passaram sobre grandes reboques, aqueles caminhões extra pesados usados em mineradoras. Este comboio vinha escoltado pelos Carabineros do Chile. Assim que passaram por nós acionaram a sirene e mandaram que andássemos, fato que também ocorreu em outra parte desta autopista perto de La Serena. Posteriormente ficamos sabendo que não podemos parar no acostamento das autopistas, somente em áreas determinadas como estacionamento e que estão dispostas ao largo da rodovia.
Conversando mais tarde com o Sérgio, achamos que a construção da autopista acabou tirando um pouco do charme do deserto. Antes vínhamos muito próximos a ele, com a as areias inclusive invadindo partes da estrada, agora está tudo muito limpo e com cercas que separam definitivamente o viajante na estrada de seu entorno. Minha opinião: não gostei.
Após Calama tomamos a Ruta 23 e aí o trajeto volta a ser atraente novamente, com subidas e descidas e a Cordilheira dos Andes e seus picos nevados sempre a nossa frente.Ao longe também víamos pesadas e negras nuvens que rodeavam e até encobriam as montanhas. Quase chegando a San Pedro paramos no mirante da Cordilheira de Sal, um lugar fantástico. Nesta parada presenciei uma cena lastimável: uma turista aproveitou uma das fendas entre as rochas para urinar, não bastasse isso, deixou no local o papel higiênico usado para secar o órgão genital. Mas tem mais, quando a família da mesma estava entrando no carro para seguir viagem, resolveram limpar ali mesmo o interior do veículo, deixando jogadas ao solo embalagens de alimentos e garrafas. Ao chegarmos a San Pedro já nos deparamos com algumas ruas alagadas e com muito barro, sinal que as notícias que vínhamos acompanhando pelos noticiários realmente procediam. O inverno andido estava no auge. Facilmente achamos o hostal que eu havia reservado com antecedência ainda em Passo Fundo, já um velho conhecido quando de nossa primeira passagem por aqui.
Aproveitamos o adiantado da hora, lavamos algumas roupas, estendemos no varal improvisado no quarto e saímos para caminhar um pouco. As ruas estavam lotadas de gente, quase superando o número de cachorros, fato que nos chamou a atenção, pois já passamos aqui outras duas vezes e não havia tanta gente assim na rua. Paramos para almoçar no restaurante La Casona, onde provamos um salmão a lo pobre acompanhado de uma deliciosa cerveja Cusqueña. Após o almoço começamos a procurar os pacotes para os passeios que pretendíamos fazer. Neste momento entendemos o porquê da multidão nas ruas. A maioria dos passeios é fora da cidade, por estradas de chão e alguns em alta montanha; estavam todos cancelados por causa das severas condições meteorológicas (alerta amarelo), com estradas cortadas pelo barro ou pela água que descia das montanhas em decorrência das chuvas lá em cima. As pessoas que normalmente estariam nestes passeios, estavam, assim como nós, encalhados na cidade.
Ainda pela parte da tarde bateu o maior aguaceiro em San Pedro, aproveitamos para tirar uma soneca.
Hotel: Hostal Elim, Rua Palpana nº5, www.hostalelim.cl
Sábado (10/02/2018)
San Pedro de Atacama (Chile)
Tomamos o café do hostal (simples mas saboroso) e fomos ao centro para conferir se haviam liberado algum dos locais que gostaríamos de ir (Lagunas Altiplânicas, Salar de Atacama e Geiseres del Tatio). Vagamos por várias operadoras e a resposta era sempre a mesma: "cerrado". Decidimos então começar pelos passeios que dependiam apenas de nós. Fizemos uma caminhada de 10 quilômetros até a Pukara de Quitor, uma boa atividade depois de alguns dias sentados sobre as motocas. O rio que passa ao largo de San Pedro estava cheio e com forte caudal, sinal que as chuvas seguiam firmes na montanha. Novamente visitamos as ruínas da Pukara e depois subimos ao cume da montanha mais alta do complexo para apreciar a vista panorâmica da região. Pelo caminho encontramos alguns brasileiros com quais conversamos durante a visitação. Um pessoal "meio alternativo", tipo "bicho grilo" talvez.
Durante o retorno paramos num mercadinho para comprar água e visualizei uma fruta diferente. Perguntei ao dono o que era e fui informado que se tratava de um "pepino dulce". Comprei um para experimentar. Provei e voltei para comprar outros, pois a fruta era muito saborosa; de sabor doce, com muita polpa, quase nada de semente e muito suco em seu interior. Viajar é cultura e isso inclui conhecer novos sabores também. Depois do delicioso pepino dulce, visitamos uma sorveteria onde experimentei "helados de membrillo e quínoa", ou seja, provei separados, sorvetes de marmelo e de quínoa, muito bons.
Após descansar um pouco na pousada, subimos nas motos e fomos visitar o Vale da Lua (entrada cerca de Us$ 4,0). O local estava cheio de turistas, pois era uma das poucas atrações aberta. Rodamos pelo parque, entramos na caverna de sal e quando chegamos ao final da estrada, no local frente ao monumento natural chamado de Três Marias, uma nuvem negra de chuva começou a rondar o vale. Nossa ideia inicial era ver o por do sol de cima de uma das dunas, porém achamos mais prudente retornar ao povoado. Aproveitamos para abastecer as motos, pois o único postinho sempre tem filas e não funciona 24 horas. Ao sair do abastecimento sigo pelo único lado desimpedido (o correto) da estreita rua que dá acesso ao posto, de um lado a fila, de outro eu rodando devagar e conversando com um motociclista de Curitiba chamado Paulo Gaida. Um vivente, morador de San Pedro, decide que também pode usar a contramão para chegar ao posto e então temos um impasse, o safado toca por cima da moto chegando a me empurrar para trás. Além de meus elogios, o índio velho acabou escutando uma gritaria daquelas das demais pessoas que aguardavam pacientemente a eterna fila do Copec de San Pedro de Atacama.
Deixamos as motos no hostal e retornamos caminhando ao centro para verificar se haviam liberado algum passeio. Conseguimos vagas para Laguna Chaxa (Salar de Atacama) e Lagunas Altiplânicas ao valor de $ 30.000 pesos chilenos ou Us$ 47,00 ao câmbio do dia.
Durante a noite fomos jantar novamente no restaurante La Casona, comemos uma parrillada absurdamente exagerada de grande enquanto um grupo tocava lindas músicas regionais. Hoje voltamos a encontrar o grupo de portugueses de Potrerillos, estavam muito animados, pois era aniversário de um deles. Um fato curioso ocorreu durante nosso jantar. Lembram do pessoal que encontramos pela manhã? Pois é, o casal ouviu a música e entrou no restaurante para assistir ao show. O ambiente estava lotado e então convidamos o casal para sentar à mesa com a gente. Foi engraçado, olharam para a pilha de carne e entranhas na parrilada e para as várias garrafas de cerveja sobre a mesa, agradeceram e saíram correndo, da mesma forma que entraram. Desconfio que a galera fosse vegetariana, vegana, naturalista ou outra coisa parecida que não aprova esses hábitos. Que pena!
Após o banquete retornamos ao hostal para uma boa noite de sono, pois no dia seguinte sairíamos cedo para o passeio. Lá pela uma hora da manhã chegam uns ingleses bêbados (mais que a gente) e continuam a festa no quarto bem em frente aos nossos. Saí de cueca mesmo e mandei alguns elogios em inglês, português e espanhol enquanto isso o Sérgio falava mais um monte de doces palavras aos súditos da Rainha Elizabeth II. A paz logo voltou ao reino do Hostal Elim e dormimos profundamente como nobres cavalheiros.
Domingo (11/02/2018)
San Pedro de Atacama (Chile)
Acordamos cedo e tomamos nosso habitual chá de coca durante o café da manhã. Logo nos dirigimos até o portão da pousada para aguardar a van que nos levaria aos destinos do dia. Depois de certo atraso chegou a nossa condução com um motorista novato e um guia para lá de bonachão, daqueles que fazia piada com qualquer assunto colocado em pauta durante o trajeto.
Depois de recorrer metade dos hotéis e pousadas de San pedro, entre um desencontro e outro por parte do motorista, finalmente tomamos rumo de nossa primeira atração do dia.
Seguimos viagem pelo deserto, morro acima, até alcançar aproximadamente 4200 msnm ao chegar à entrada do parque das Lagunas Altiplânicas. A estrada estava bem danificada, com grandes trechos erodidos pela água que descia das montanhas. Depois de um atrapalhado café da manhã, onde o guia virou o café solúvel e também ajudou a comer o desjejum, aguardamos a liberação da estrada que levava à sede do Parque, onde pagaríamos o ingresso para poder usufruir das paisagens cinematográficas proporcionadas pelos vulcões, montanhas nevadas e as lagunas Miscanti e Miñiques. De longe ainda observamos um bando de vicuñas pastando ao longo de uma das lagunas. Nossa primeira passagem por aqui, alguns anos atrás, foi um pouco mais agradável, onde tivemos um pouco mais de liberdade para caminhar entre as trilhas que levam de uma laguna a outra, podendo assim interagir um pouco mais com o local. Desta vez a visitação foi dentro da van, com direito a descer somente em lugares pré-determinados. Em contrapartida, de tanta encenação teatral que nosso guia fazia, acabamos aprendendo a diferença entre uma vicuña e um guanaco.
O seguinte destino, muito próximo a San pedro, onde poderíamos inclusive ter ido de moto, foi a laguna Chaxa, em meio ao salar de Atacama, berço de aves da região como algumas espécies de Flamingos. O caminho até a laguna Chaxa estava bem irregular, com um ponto de alagamento e barro, fazendo a van sacudir de um lado para o outro por muito tempo. Fizemos outra parada rápida num vilarejo chamado Toconao, onde pagamos para ver e tocar numa lhama, como também para fazer um pequeno lanche no mercadinho local.
Às vezes achamos que o que interessa é apenas o destino, mas retornando agora a estes locais que visitamos com outra operadora de turismo, diferente da que utilizamos no ano de 2009, percebemos que o fator "com quem vamos" também é importante. Certamente aproveitamos muito mais o primeiro tour que fizemos por estas atrações na ocasião de nossa primeira viagem por aqui, pois agora foi bem mais "acelerado", para não dizer outra coisa.
Assim que retornamos ao Hostal, entrei em contato com o Cristóbal, nosso guia de alta montanha que contratamos para nos levar até a cratera do vulcão Lascar. A notícia não foi nada agradável, apesar de hoje não chover aqui no povoado, no alto da Cordilheira o tempo continuava ruim, com chuva, neve e ventos fortes. Como consequência e levando em consideração o prognóstico climático, pois as autoridades chilenas ainda não tinham previsão de abrir as estradas nos próximos dois dias e a maioria das atrações de alta montanha estavam canceladas (escaladas, trekings, passeios nos gêiseres do Tatio, etc...), resolvemos abrir mão de uma diária no hotel, arrumamos as malas e nos preparamos para partir na manhã seguinte. Ainda deixamos acertado com a proprietária da pousada, já que as diárias estavam pagas, que não ocupasse nossas habitações até às 15h da tarde, hora prevista para retorno caso não conseguíssemos atravessar para a Argentina.
Segunda (12/02/2018)
San Pedro de Atacama (Chile) - San Salvador de Jujuy (Argentina) - 480 km
Sem muita pressa fomos ao desjejum, pois precisamos aguardar a liberação do Paso Internacional de Jama. Aproveitei o tempo de espera para preparar uma garrafa com chá de coca para ir bebericando durante o trajeto em altitude. Já com a moto carregada aguardamos no hotel, atualizando seguidamente o aplicativo Fronteras Argentinas, só esperando as letras vermelhas que grifavam "cerrado", mudar para cor verde, indicando que o caminho estava aberto. Eram 08:15 h quando as autoridades abriram o Paso e somente aí iniciamos nossa jornada de 160 km até a aduana conjunta, já na fronteira com a Argentina. Aquelas nuvens negras da chegada ainda continuavam pairando sobre as montanhas, seguimos cordilheira acima sempre com interrogações em nosso pensamento: Vai nevar? Vai chover? Vai cair granizo? E o vento?
Após algum tempo subindo, paramos aos 3.200 msnm para fazer algumas fotos junto ao vulcão Lincancabur, como também para colocar um pouco mais de roupa contra o frio. Seguimos devagar, fotografando os rebanhos de lhamas, guanacos e vicunhas que encontrávamos pelo caminho. Em certa altura, próximo a saída para a Bolívia, começou a chover flocos de gelo, nem paramos, pois logo a frente já identificávamos que não chovia mais. Apenas em um ponto da estrada havia uma pequena porção de neve acumulada. Realmente eu esperava encontrar mais pelo caminho.
Chegamos ao complexo aduaneiro com uma leve garoa, fazia muito frio no momento. A aduana estava lotada, muitos ônibus de sacoleiros provenientes da Bolívia complementavam o caos na aduana.
Completamos os tanques das motos do posto YPF do Paso de Jama, aproveitamos para fazer um lanche e também para colocar as roupas impermeáveis, pois a chuva havia apertado mais um pouco desde que chegamos aqui. Seguimos pela cordilheira enfrentando frio e alguns trechos com chuva fraca. Ao chegar às Salinas Grandes nos deparamos com um grande espelho d'água, um lindo espetáculo da natureza formado pelas chuvas desta época do ano. Fizemos mais algumas fotos e seguimos descendo.
Nossa viagem foi tranquila até chegarmos a Purmamarca. Eu já sabia que era época de carnaval na região e que seria quase impossível tentar um hotel aí, mas não havia imaginado que encontraria tanta gente na região. A rodovia estava tomada de pessoas e carros, na cidade, ao olhar de uma parte alta da estrada, somente identificávamos um "mar de gente", não encontrando um espaço sequer para uma tentativa de visitação. Depois de 30 minutos conseguimos retomar a viagem.
Deste ponto até San Salvador de Jujuy foi uma via sacra. Muito movimento nos dois sentidos, muitos cortes e desvios de estrada em virtude das chuvas e um longo engarrafamento causado pela polícia que realizava as tradicionais verificações veiculares e de passageiros sobre a via. Hoje percebemos o porquê de tanto alarde com as chuvas causadas pelo inverno andino. Uma grande quantidade de água, barro e pedras desce com muita violência das montanhas. Arrastam tudo pela frente: estradas, árvores, casas, etc. Passamos em algumas pontes onde a água passava furiosamente ao nosso lado, causando muita apreensão por parte de todos, principalmente de quem anda de moto.
Já com a noite como nossa companheira chegamos a San Salvador de Jujuy, paramos para abastecer e começamos a pesquisar hotéis. O primeiro indicado era na beira da estrada, era um motel e desistimos. O segundo que encontramos estava num bairro comercial, um tanto desleixado, mas mesmo assim entramos e iniciamos as tratativas com uma confusa senhora que atendia no momento. Estava difícil, a senhora não sabia de nada, dizia que não tinha internet nem café da manhã. Estávamos cansados e a conversa com a senhora acabou nos aborrecendo. Juntamos nossas coisas e, com forte chuva, iniciamos uma nova procura, agora mais para o centro, numa região bem mais agradável. Paramos em alguns hotéis e todos estavam lotados em decorrência do tradicional carnaval "norteño". Depois de uma hora rodando paramos num hotel onde encontramos as duas últimas vagas disponíveis.
Neste hotel, enquanto fazíamos o check in, chegou mais um grupo de viajantes de moto, eram brasileiros e também não estavam conseguindo alojamento para todos. O atendente do hotel também era motociclista e tentou ajudar o pessoal, ligou para vários hotéis, mas não teve sucesso, pois era um grupo grande e a cidade realmente estava cheia. O pessoal pegou novamente a estrada para tentar a sorte em alguma cidade mais adiante. No jantar seguimos a orientação do chapa do hotel e fomos até uma pequena pizzaria artesanal próxima, tomamos algumas cervejas e retornamos para um merecido sono depois de um dia muito difícil.
Hotel: Alvear, www.hotelalvearjujuy.com.ar, Av. Senador Perez nº 398 esquina Alvear, San Salvador de Jujuy. Diária de Us$ 30,00 em apartamento single.
Terça (13/02/2018)
San Salvador de Jujuy - Pres. Roque Saens Peña (Argentina) - 671 km
Novamente saímos cedo, o tempo estava feio, mas não chovia no momento. Depois de rodar um pouco, abastacemos em General Güemes onde encontramos novamente a turma de motociclistas guiada pelo Gaida e, posteriormente, em Joaquim V. Gonzales. Depois desta cidade a estrada virou um terror até a localidade Taco Pozo, onde paramos para descansar, fazer um lanche e abastecer. O trecho de 100 km que liga estas duas localidades estava repleto de grandes buracos que nos forçavam a andar em segunda e terceira marcha. Neste inferno passamos novamente pelo pessoal de Carlos Barboza, aqueles que encontramos procurando hotel em Jujuy, viajavam mais devagar ainda, pois no seu comboio haviam motos custom e triciclos, veículos que, sabidamente, enfrentam com mais dificuldade estradas precárias, como este trecho da Ruta 16 no Chaco argentino. Em contrapartida, para amenizar nosso suplício e alegrar um pouco a viagem, dividíamos a estrada com grandes bandos de borboletas amarelas que pousavam nestas crateras para saciar um pouco a sede com a água acumulada de chuvas anteriores. Realmente um lindo espetáculo.
Sem maiores novidades pelo caminho chegamos a Presidência Roque Saenz Peña, cidade que elegimos para pernoitar. Abastacemos num posto na entrada da cidade e, mesmo já conhecendo um hotel, resolvemos tentar a sorte com alguma indicação do GPS. Encontramos uma opção melhor e mais barata bem no centro, com um bom café da manhã e piscina para aplacar o calor do Chaco argentino.
Hotel: Aconcágua, www.hotelaconcaguachaco.com.ar, Rua Azcuénaga nº 102.
Quarta (14/02/2018)
Pres. Roque Saens Peña (Argentina) - São Borja (Brasil) - 588 km
Mais um dia para cumprir tabela, sem muito que ver pelo caminho, pois o trajeto de hoje é em meio a lavouras e criação de gado. Ao sair da cidade observamos uma placa que, assim como ocorre em Corrientes, indica a proibição do tráfego de motos pela via principal (autopista), sendo estas obrigadas a utilizar a "colectora local" para o deslocamento em região urbanizada.
Fizemos uma parada para abastecimento e café em Corrientes e, posteriormente, num posto do ACA na estrada, próximo a entrada de Ita-Ibaté e, adivinhem! Isso mesmo, não tinha gasolina no posto. Entramos na cidade e o posto que ali existia havia fechado as portas já a algum tempo. Restou-nos seguir devagar e torcer pelo próximo posto, cerca de 70 quilômetros adiante, ter gasolina para saciar a sede de nossas motocas. Uns 20 quilômetros antes de Ituzaingo, onde teria outro ponto de abastecimento, encontramos um quiosque na beira da estrada que vendia bebidas, comidas e gasolina. Sem pensar muito, paramos e colocamos 10 litros cada um para garantir nossa viagem. Paramos novamente em Ituzaingo para almoçar e completar o tanque, encontramos mais alguns viajantes brasileiros e logo seguimos viagem, parando novamente em Governador Virasoro para completar o último tanque de combustível que pagaríamos com peso argentino.
Na aduana voltamos a encontrar o pessoal de Carlos Barboza. No câmbio aproveitei para trocar os últimos pesos por reais e logo realizamos os trâmites para entrar no Brasil. Novamente coloquei uma opção de hotel no GPS e facilmente nos acomodamos no centro de São Borja. Para amenizar o calor tomamos algumas cervejinhas na piscina da cobertura do hotel.
No fim de tarde resolvemos ir de taxi ao bairro do Paso para apreciar o por do sol no rio Uruguai como também para degustar mais uma cervejinha acompanhada de um excelente peixe nos tradicionais restaurantes da orla.
Hotel: Al Manara, Av. Presidente Vargas nº 1913, São Borja, RS, almanara.depositos@gmail.com, 55 3430 3436
Quinta (15/02/2018)
São Borja - Passo Fundo (Brasil) - 390 km
Último dia de viagem, para falar a verdade, já fiz tantas vezes este trecho que agora não lembro o que se passou neste dia. No final da viagem já havia deixado de fazer algumas anotações em minha agenda. Separei-me do Sérgio e da Paula no trevo da cidade, eles seguiram pela BR 287 até Santa Maria e eu pela BR 285 até Passo Fundo.
BALANÇO DA VIAGEM
O hodômetro da moto somou 7.020 km, já a distância calculada pelo Google somou 6.690 km. A diferença de 330 km deve-se ao fato de também usarmos a moto em deslocamentos para visitar alguns lugares enquanto já nos encontramos parados em alguma cidade. Novamente fizemos uma tranquila viagem pela Argentina, Uruguai e Chile. Desta vez evitamos a famigerada Ruta 127 na província argentina de Entre Rios e não tivemos nenhum problema com a corrupção policial. Mesmo rodando alguns quilômetros a mais para evitar a bandidagem de farda o trajeto vale a pena, pois as estradas são melhores, ganhamos tempo e economizamos nossa paciência.
Sempre procuro bastantes informações sobre o clima nas épocas que viajamos, então já sabíamos que poderíamos enfrentar algumas condições meteorológicas difíceis nesta viagem. Eu não imaginava que os contratempos já iniciariam na saída, perto de Mendoza, com aluviões cortando os caminhos da cordilheira. Pensava que teríamos problemas somente no retorno, no Paso de Jama, em decorrência do Inverno Boliviano que também atinge o norte do Chile. Nestas viagens temos que estar preparados para tudo, sempre. Enquanto estávamos em viagem, acompanhávamos o aplicativo Fronteras Argentinas e por várias vezes notamos que o caminho de San Pedro para Jujuy estava fechado durante o dia. Isso sempre foi um fator de apreensão, pois nosso retorno está condicionado a atravessar a Cordilheira.
Como já comentei anteriormente, já havíamos realizado esta viagem no ano de 2009. Apesar de utilizarmos praticamente o mesmo percurso em quase toda a viagem, acabamos conhecendo estradas e atrações novas pelo caminho. A vantagem de conhecer o terreno é poder realizar algumas variações, por diferentes estradas, secundárias ou não, agregando sempre novas experiências aos olhos do viajante. É claro que o impacto ao chegar a certos lugares conhecidos já não é o mesmo de quando passamos por vez primeira, mas insisto que toda viagem vale a pena. Lembrem-se da passagem do texto "Viagem a Portugal" do grande Saramago e que já citei anteriormente em meu livro "Estrada Sem Fim".
Buenas pessoal, espero que o relato tenha sido útil, agradável e que tenham gostado da viagem. Até a próxima.
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