Dicas de viagem por estradas de terra


Com vasta experiência em viagens pelas mais diversas estradas de terra deste Brasil, Roberto Atobá, fala de equipamentos, roteiros e da preparação para viagens.
Nós, brasileiros, amantes dos veículos de duas rodas com um motor no meio e paralama alto, somos privilegiados por morar em um país com tantas opções para o motociclismo fora de estrada como o nosso. Com estradas de qualidade duvidosa, lotadas de caminhões rodando com sobre peso, em alta velocidade, motoristas de automóveis se achando em autódromos e enxergando em você um quase inimigo, rodar por estradas secundárias, além de ser bem mais seguro, pode ser muito mais divertido.
É muito importante saber que entre dois pontos ligados por uma estrada de asfalto, também tem uma, ou quase sempre, várias opções por terra em diversos graus de dificuldade. Se você tem tempo, a mínima habilidade, uma moto adequada e o principal, um espirito aventureiro, esta pode ser uma opção a ser considerada pois uma coisa é certa, sua viagem vai ser muito mais divertida.
Uma vez ouvi uma entrevista de um aventureiro ciclista, que falava que o ideal é seguir o mais devagar possível para se desfrutar de todos os sentidos que o ato de viajar proporciona e que mesmo ele dando a volta ao mundo de bicicleta, chegou a conclusão que iria passar a viajar a pé. Guardada as devidas proporções, de moto, na terra, as baixas velocidades impostas por seus obstáculos, somados a beleza dos lugares fazem com que a filosofia correta seja a do nobre ciclista: quanto mais devagar, melhor. Parar para contemplar, para fotografar e principalmente para interagir com as pessoas da terra, quase sempre muito receptivas. Isso faz com que o tempo, a quantidade de kms rodados não seja o mais importante afinal parte-se do princípio que você está de folga, férias ou, no mínimo, em um fim de semana e com tempo para gastar.
Mas para este tipo de viagem é necessário um preparação mais aguçada, desde o levantamento do roteiro até a checagem da moto e bagagem passando por equipamentos de proteção e navegação.
Então, vou dar algumas dicas que com tempo serão assimiladas e com a experiência, você irá agregando outros detalhes para melhorar suas aventuras
O ROTEIRO
Antes de tudo, vamos voltar ao começo onde falo que entre dois pontos existem várias estradas de terra então escolha para onde você quer ir e comece a pesquisar. A principal ferramenta, quase indispensável é o GPS, de preferência modelos próprios para motos pois aguentam melhor as condições de uso mais radical no fora de estrada além de serem a prova d'agua. Existem programas como o Tracksource,(http://www.tracksource.org.br/) gratuitos, que fornecem bastante informações de estradas rurais. Se você tem um GPS comece seu levantamento por ai. Marque sua rota calculando onde parar, de preferência cruzando pequenas vilas e cidades que são fontes de recursos como gasolina, comida, borracharia etc. Mas considere sempre uma cidade maior (não muito) para eventual pernoite. Outra coisa importante que deve-se levar em conta é que o GPS não é o dono da verdade e é sempre bom usar o velho sistema "onkotô/onkovô" para se certificar que tudo está sob controle. Mesmo assim caso você se perca, o que acontece com frequência, faça disto um complemento do passeio e relaxe afinal você está andando pelo mato, o que deve ser bem prazeroso, mas ao perceber que está perdido retorne e tente retomar ao caminho original o mais rápido que puder. Mais uma vez, moradores locais, sempre presentes e receptivos, são de grande valia.
Caso você não tenha GPS, existem várias alternativas e uma ferramenta bastante útil é o Google Earth que conjugado com um bom velho e detalhado mapa produz ótimos resultados. Dá mais trabalho levantar e navegar mas você pode ir anotando os nomes de cidades e vilas e junto com a navegação "a beiço" conseguir boas aventuras assim. É importante lembrar que as imagens de satélite não mostram a qualidade das estradas mas com o tempo você passa a avaliar isto melhor. Pelo Tracksource, você pode fazer um roteiro também, anotando os nomes das cidades e povoados e depois marcar a rota no mapa. Em ambos os casos, montar uma pequena planilha e fixa-la a moto, com as informações mais importantes pode ser extremamente útil.
Ao levantar o roteiro, tente evitar o máximo possível viajar mais que 250 km dia. Deixe tempo de sobra para aproveitar a sua viagem. Caso tenha algum trecho de asfalto aumente um pouco ou diminua caso o caminho seja mais difícil mas nunca deixando de lado a capacidade improvisação e a adoção de um plano B. Uma mudança de rota pode se apresentar necessária e não deve ser tomada como uma quase tragédia, devemos sempre nos lembrar que se estamos ali é porque optamos por viajar de forma alternativa
Sugiro, com ou sem GPS, começar com pequenas incursões pelas redondezas da sua cidade. Você vai se surpreender com tantas coisas interessantes em um raio de 100/200 km da sua casa. Pequenas viagens de fim de semana, com pernoite, são ideais para quem quer começar a dominar os segredos de viajar por terra e daí para aventuras mais longas será um pulo.
A BAGAGEM
Neste quesito você deve sempre pensar que quanto menos, melhor. Roupas para trilha são mais fáceis de lavar e oferecem a proteção adequada. Camisetas velhas, aquelas que sua mulher vive pedindo para você jogar fora, são uma boa também pois ao invés de lava-las você as dispensa depois de sujas e compra alguma pelo caminho.
O clima das regiões que você vai cruzar deve ser levado em consideração e estudado antes da viagem. Recomendo sempre que não se opte por viajar nos meses de chuva pois a lama, mesmo sendo divertida em pequenos trechos, pode ser uma enorme dor de cabeça em uma longa jornada aumentando muito o risco de tombos com uma quebra na moto ou mesmo uma lesão.
Alforges de lona, alumínio ou plástico são bons mas eu prefiro os primeiros pois são flexíveis e em caso de necessidade de reparo, uma costura é muito mais fácil de fazer. Se acrescentar o preço ai eles ficam imbatíveis mas perdem na segurança. Os alforges também protegem a moto em caso de tombo evitando o seu contato com o solo e ajudam a manter o pé livre em caso de acidente. Um pequeno bauleto para as roupas e coisas mais valiosas pode ser usado mas com parcimônia pois o exagero pode provocar quebra de chassi com os solavancos que serão muitos. Não coloque eletrônicos sensíveis dentro do Baú pois a vibração é muito grande, a não ser que você faça ,com espuma, um estojo para tal.
Evite amarrar mochilas no banco pois na terra o deslocamento do piloto para frente e para trás é muito importante para se superar obstáculos como valas, subidas, descidas, buracos, areia e etc. Então, quanto mais livre o banco, melhor.
Ferramentas, leve as originais da moto e só vá acrescentando outras se você tiver a capacidade de usa-las. Levar um espátula para pneus sem saber desmonta-los é carregar peso atoa. Uma corda, silver tape, vela, pastilhas (guarde as usadas para isto), câmaras de ar, emenda de corrente e uma chave combinada que afrouxe a roda e um canivete para frutas e pequenos reparos, completam um kit básico. As chaves reserva da moto, de baús e trancas devem seguir com você em lugar seguro e junto do corpo. Uma chave codificada perdida pode dar muita dor de cabeça e acabar com o seu passeio.
Combine com os amigos para cada um levar alguma coisa pois assim o peso fica dividido mas lembre-se de NUNCA levar o que não vai usar.
Leve também água (1 lt) e algumas barras de cereal para uma eventual emergência.
A MOTO
Para se aventurar no mato, a moto TEM QUE ESTAR 100% com todos os itens revisados. Pneus, pastilhas, rolamentos, cabos, filtros, lubrificante, bateria, lâmpadas, relação, documentos são as coisas mais importantes a se estar atento. Um problema no meio do cerrado, com o próximo recurso a mais de 50 km pode ser uma boa dor de cabeça então verifique tudo antes de sair e mesmo assim tenha com você a certeza de que está montado em uma máquina e que maquinas quebram. Esteja SEMPRE preparado para isto e a forma como você vai superar eventuais problemas e que vão fazer de você um verdadeiro aventureiro.
Procure sempre usar um pneu adequado, levando em consideração a proporção do uso dentro e fora do asfalto. Se for rodar só na terra, os biscoitos podem ser uma boa escolha já para uso misto, existem boas opções no mercado. O uso de câmaras reforçadas e com aplicação de vacina é bastante recomendado.
Protetores de motor, de cárter, de mão com alma de alumínio e um bom guidom "fat" ajudam e muito contra eventuais danos.
As motos leves e médias, entre 250 e 600 cc são as mais recomendadas pois quanto menos peso melhor. Raramente se anda a mais de 80 por hora em estradas de terra e você só vai precisar de mais potência se voltar para casa por asfalto mas nada que um pouco de paciência não resolva. Pseudos "Big Trails" são muito boas na mãos de pilotos muito experientes e que são contratados para campanhas de publicidade das marcas para passar uma imagem aventureira. Não se engane. Você não vai ter ganhar na loteria para ter aquela super hiper moto e ser feliz.
Caso, no fim da viagem, você tenha que fazer um grande deslocamento de volta para casa. Faça uma pequena revisão na moto antes de começar pois na terra, parafusos se soltam ou afrouxam e algumas peças tem o desgaste acentuado.
Limpe filtro de ar, verifique corrente, pastilhas, e de um reaperto geral.
EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO
Devemos nos lembrar que não vamos para uma competição então, coletes, protetores cervicais poder ser opcionais desde que não se radicalize. Protetores de joelhos, cotovelos, botas de cano longo, luvas e um bom capacete fechado completam o equipamento básico. O risco de tombo pode ser maior mas o risco de um acidente sério é infinitamente menor.
Caso rode em clima ameno, os equipamentos de cordura oferecem uma boa proteção para tombos e intempéries já no calor são uma tortura.
A PILOTAGEM
Deixei este tópico por último por considerar o mais importante. Não se tem a garantia do tipo de piso ou situações complicadas que se irá encontrar. Tudo pode acontecer e você ter que encarar lama,´pedras, areia, travessias de rios, poeira e etc. Então tem que estar psicológica, técnica e fisicamente preparado.
Parto do princípio que se alguém se aventurou neste tipo de viagem é porque já tem um pouco de experiência então não vou me prender a técnicas de pilotagem para cada tipo de piso ou situação, para focar a segurança pois sem acidentes, você com certeza vai voltar a fazer outras viagens e com o tempo vai passar a dominar melhor a sua moto.
Sempre brinco que a posição ideal da moto na estrada é quando a ponta do protetor de mão direito fica batendo na vegetação ou no capim da margem. NUNCA se esqueça que mesmo sem cruzar um veículo por muito tempo, a lei de Murphy fará com que você encontre com um ônibus ou um velho caminhão no meio de uma curva em uma estrada que mal cabe um carro. Jamais tangencie a curva sem que tenha total visão da mesma. É muito comum que com o tempo, sem cruzar ninguém, se sinta o dono da estrada e passe a ocupar toda a estrada e isto também acontece com o condutor do outro veículo então, todo cuidado ainda é pouco pois um tombo pode ser tranquilo já uma batida...
Na dúvida, siga devagar, atento a sinais como poeira que avisa a presença de outro veículo. Para ultrapassagens, só o faça quando tiver certeza que o condutor da frente, seja de carro, moto, caminhão ou trator, te viu. Não se avexe em usar a buzina.
Os animais merecem bastante cuidado. Vacas, cavalos, porcos, cachorros e jumentos, são totalmente imprevisíveis e sempre imagine que eles vão fazer a coisa errada. Choque com animais pode ser muito danoso. Diminua até ter a garantia de que pode cruzar com segurança. Otura coisa importante é nunca assustar um animal, acelerando, gritando ou mesmo correndo paralelo a ele. Dificilmente um animal deste ataca, só em casos de vacas com crias pequenas que veem seus filhotes em situações de perigo.
Se cruzar um boiada, faço bem devagar sem atrapalhar quem está trabalhando e o mesmo vale para cavaleiros e ciclistas. Tome cuidado para anunciar sua presença para não assustar o animal ou as pessoas.
Na verdade aqui pode-se resumir em: redobre o cuidados ,esteja sempre atento e modere a velocidade. Se cair, levante e retome seu caminho pois nestas condições, um tombo é a coisa mais normal do mundo.
O COMPORTAMENTO
Mais até que as pessoas da cidade, as do campo são apaixonadas por motos e as usam, geralmente pequenas 125, como ferramentas no dia a dia e de lazer e quem não tem, sonha com uma então, estarão todos curiosos e receptivos. A interação com as pessoas é o que considero o terceiro pilar dos grandes prazeres deste tipo de viagem, sendo os outros a contemplação de paisagens e o prazer da pilotagem. Paradas para bater um papo e saber das coisas do lugar podem ensinar bastante sobre a região e sobre gente que leva a vida com bastante tranquilidade e simplicidade. É uma verdadeira lição que não se compra em lugar algum.
Se você tem muitas restrições com relação a alimentação, procure organizar melhor seus pontos de parada para refeições ou leve algo na bagagem. Se for adepto de comidas exóticas, sem muitas "frescuras" tudo fica mais tranquilo.
Pessoas ruins tem em todo lugar então tenha cuidados básicos com sua segurança mas sem deixar que a paranoia da cidade grande domine. O índice de violência no campo é infinitamente menor então relaxe e aproveite.
Outra coisa importante neste tipo de viagem é que os custos não são altos. Como se roda pouco por dia, o gasto com combustível é pequeno. Hotéis e restaurantes simples, coisas do interior, completam as opções de baixo custo.
Não existe um número ideal, mas evite viajar sozinho assim como em grupos muito grandes. De 2 a 5 pessoas é o recomendado mantendo-se uma distância razoável por causa da poeira e sempre atento ao parceiro que vem atrás. O mais experiente e responsável pela navegação deve seguir na frente parando nos lugares que podem gerar dúvidas e outro piloto tarimbado e com um boa moto deve seguir fechando o comboio. Caso opte por viajar sozinho, redobre os cuidados com equipamentos e pilotagem.
Uma coisa eu garanto, o dia que este bicho aventureiro te picar, você nunca mais estará livre desta febre boa que é rodar por estradas secundárias com segurança, gente e paisagens do mais alto calibre. Pode ter certeza que elas estão ai ao seu lado, bem perto da sua casa.

http://portalbigtrails.com.br/index.php/colunas/item/576-dicas-de-viagem-por-estradas-de-terra

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