Anos Perdidos ?

 



Por Marcus Vinícius de Freitas*


Anos Perdidos?

 

Dois anos já se passaram desde que a pandemia da COVID-19 se tornou uma realidade global. Dos primeiros casos na China até à atual variante Ômicron, muita coisa se passou ao longo deste tempo. Do uso excessivo de álcool gel até o isolamento quase total, houve, neste período, a incorporação de várias palavras e conceitos ao vocabulário: lockdown, variantes, IFA, achatamento de curva, saturação, hospitais de campanha, dentre outras. As soluções para a pandemia também variaram muito: da controversa hidroxicloroquina e Ivermectina a detergente e curas espirituais, notamos o quanto o conhecimento humano é limitado, transitório e reduzido quando novos desafios são impostos pelo meio ambiente. A humanidade que, muitas vezes, se crê tão avançada, ainda demonstra um atraso intelectual surpreendente, nos mais variados níveis e camadas sociais.

Também se instauraram insanidades globais conspiratórias. Da origem do vírus, em Wuhan, na China, até os desatinados movimentos negacionistas e antivacinas, observamos uma abundância crescente na manipulação e ignorância coletiva, o que levou a milhares de mortes. O vírus, cuja letalidade se mostrou elevada, foi inicialmente tratado de maneira leviana pelo Ocidente, o qual, quando acuado pela forma incompetente como tratou da questão sanitária, optou por apelidá-lo de vírus chinês ou gripe kung fu (em inglês, “kung flu”), tentando criar um inimigo externo para obscurecer os equívocos de ação e atuação. Como sempre, tais teorias conspiratórias tendem a satanizar determinados grupos, criando distrações que constituem enorme perda de tempo.

Foi na Itália que a COVID-19 encontrou, inicialmente, um terreno fértil para sua difusão, particularmente em razão da idade avançada de sua população e da desorganização estatal. De lá, a COVID-19 se espalhou rapidamente por todo mundo, particularmente no Hemisfério Norte. Países que por muito tempo considerávamos referência internacional deixaram muito a desejar em sua atuação. Continuamente, as políticas públicas falharam. A Suécia, inicialmente, elogiada por sua ideia de imunidade de rebanho, logo foi criticada por sua elevada taxa de letalidade quando comparada aos países que adotaram protocolos mais restritivos quanto à pandemia. O fato é que a COVID-19 surgiu e expandiu-se substancialmente no Norte Global.

Um dos maiores problemas do vírus foi sua utilização ideológica por governos como Trump, Johnson e até mesmo Bolsonaro, que, foram ineptos para lidar com a situação. No caso dos Estados Unidos, a questão eleitoral Trump-Biden acirrou ainda mais a natureza ideológica e eleitoral do vírus. No Brasil, que deveria ter seguido Portugal em sua maneira de tratar da pandemia, optou-se por imitar políticas equivocadas, com uma enorme confusão dos agentes públicos quanto às políticas a serem adotadas e uma taxa impressionante de mortes. Da abertura de campas de cemitério a rodízios de veículos, tudo o que o Poder Público poderia fazer de errado, ele o fez. Isto não foi exclusividade do Brasil, no entanto, como podemos observar pelo mundo.

Felizmente, as vacinas vieram como uma tentativa – exitosa, diga-se de passagem – de reduzir a espiral letal do vírus. Como bala de prata, a vacinação logrou diminuir substancialmente as taxas de mortalidade. O crédito deve ser dado e reconhecido: com a vacinação, a situação ficou mais administrável. Equivocadamente, no entanto, também surgiram os sommeliers de vacina, gente desqualificada julgando a qualidade das vacinas oferecidas por mera grife laboratorial ou as idades em que as vacinas deveriam ser aplicadas. Muitos destes – em posições de enorme influência – prestaram um enorme desserviço à solução mais rápida da pandemia, pois pretendiam transformar as vacinas em elixir da imortalidade ou como críticos do suposto experimento das vacinas..

O fato é que a COVID-19 revelou vários aspectos em que notamos as falhas e limitações do conhecimento humano, a manipulação política da saúde e o enriquecimento ilícito dos aproveitadores das desgraças humanas, além do lucro extraordinário de alguns laboratórios.

Por quanto tempo continuará a pandemia? Ainda não sabemos. A cada período vão surgindo novas variantes, que são transmitidas mais rapidamente, porém com efeitos menores. É um bom sinal, pois indica que a situação vai melhorando. Nota-se, também, que países como Reino Unido, vem adotando a estratégia inicial da imunidade de rebanho, inicialmente propugnada pela Suécia. Ademais, observa-se que os países cujas administrações falharam na pandemia vem sendo trocados em todo o mundo pela via eleitoral. O eleitor olha para sua situação econômica e para os familiares e conhecidos que faleceram e, imediatamente, faz a opção da troca. A esperança é que o eleitorado tenha a sabedoria e a maturidade de buscar melhorar – e não piorar – a situação. Afinal, as coisas sempre podem piorar.

Mas, de fato, será que poderíamos dizer que estamos melhores hoje do que há dois anos? A humanidade evoluiu neste período ou regrediu em conhecimento, bondade, generosidade ou inteligência emocional? Terão sido estes dois últimos anos perdidos? Qual, em sua opinião, foi o maior aprendizado da COVID-19? Winston Churchill sabiamente afirmou: “A vida dá lições que só se dão uma vez.” Será que aprendemos algo?



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