Entrevista a Vitor Sousa – O passado, o presente, e o futuro da Triumph
O Andar de Moto esteve à conversa com o responsável de comunicação, vendas e marketing da Triumph Portugal. Vitor Sousa, um nome bem conhecido dos motociclistas nacionais, falou connosco sobre a presença da marca britânica em terras lusas, da chegada de novidades, e também do que significa o projeto Moto2. Leia aqui a nossa entrevista exclusiva!
Uma visita rápida ao website oficial da Triumph Motorcycles Portugal é suficiente para perceber que a marca britânica, com sede em Hinckley, disponibiliza uma variada gama de modelos capazes de lutar pelo título de “melhor do segmento”.
Desde a nova Rocket 3, sem esquecer as roadster, as aventureiras, ou ainda as clássicas modernas, terminando nas exóticas e muito procuradas Triumph Factory Custom (TFC).
Mas para chegar aqui a Triumph teve, obrigatoriamente, de tomar decisões, de perder tempo a desenvolver novos modelos, de adaptar o seu negócio, de inovar e de surpreender. Pelo meio decidiram entrar na competição efornecem agora em exclusivo o motor para as Moto2 do Mundial de Velocidade.
Foram muitas mudanças na Triumph, e muitas mais se esperam no futuro!
Achámos por isso boa ideia falar com Vitor Sousa, uma cara bem conhecida dos motociclistas portugueses pelas diversas funções que já desempenhou no mundo das duas rodas, e que atualmente tem como missão ajudar a Triumph a crescer cada vez mais em Portugal.
Leia aqui a nossa entrevista exclusiva a Vitor Sousa, responsável de comunicação, vendas e marketing da Triumph Portugal, e fique a conhecer melhor o que se passa, e o que vai acontecer, com a marca de Hinckley.
Andar de Moto - Antes de entrar no futuro da Triumph, e nos novos modelos, matéria sempre importante, convém fazer uma análise ao que tem sido a a vida da marca em Portugal. Com uma gama de modelos bastante alargada no sentido que a Triumph tem motos para diversos segmentos, como é que está a ser o ano de 2019 em termos de vendas, ou de negócio, e a sua relação com os motociclistas?
Vitor Sousa – O ano de 2019 está a ser o melhor ano de sempre da Triumph em Portugal, um pouco na continuação dos bons resultados verificados nos anos anteriores. O mesmo se poderá dizer relativamente ao envolvimento da marca com os seus clientes, e não só, pois todo o trabalho desenvolvido por nós, desde 2013, tem cimentado essa relação, depois de anos muito complicados. Tem sido um trabalho duro, pois a marca foi muito mal tratada no passado e os ‘fantasmas’ demoram a desaparecer.
Andar de Moto - Por falar em relação com os motociclistas e clientes. Há novidades em relação à abertura de novos concessionários?
Vitor Sousa – Iniciámos a representação da marca em 2013 com dois concessionários, Lisboa e Porto, e são esses que mantemos ainda. Em Lisboa, o crescimento obrigou-nos a abrir uma loja nova, em setembro de 2017, integrando o conceito ‘World Store’, premium da marca, e mantendo a localização antiga como serviço de oficina e peças. No Porto, estamos a ultimar a obra numa loja nova, mesmo ao lado da atual, com mais espaço e também com novo o conceito ‘World Store’. Deverá abrir no mês de setembro.
A novidade é que iremos chegar ao Algarve, onde já queríamos já ter aberto uma loja, mas antes preferimos fazer as coisas de forma consolidada, dando passos seguros e sem precipitações. É essa atitude que nos tem valido o crescimento da marca e do negócio e não iremos abdicar dela, por isso só agora encontrámos reunidas todas as condições internas e externas que procurávamos para darmos esse passo. Os trabalhos estão praticamente concluídos, a equipa vai iniciar a formação nos próximos dias. A nova loja vai ser inaugurada no próximo mês de outubro de 2019.
Andar de Moto - Como Triumph Portugal, o que indentificas como sendo um ponto menos positivo do vosso trabalho no nosso país, e que será preciso melhorar para atingir uma maior satisfação, quer vossa, quer dos clientes?
Vitor Sousa – Sem dúvida, o grande óbice tem sido a insuficiente cobertura territorial. Compreendemos que um potencial cliente do Algarve – para onde, no entanto, sempre vendemos motos – ou da zona centro do país tenha dificuldade, mesmo querendo, em adquirir uma das nossas motos, até pela questão da manutenção e proximidade da oficina…
A razão está explicada na resposta anterior, mas posso acrescentar que na nossa mente essa questão está sempre presente e que estamos a trabalhar no sentido de termos uma cobertura geográfica do país tão racional quanto possível, tendo em conta o mercado e a sua dimensão, a marca que somos e o modelo de negócio que implementámos, com concessionários exclusivos da marca Triumph.
Andar de Moto - Entremos agora nos modelos Triumph. Sabemos que muitas vezes os motociclistas portugueses têm preferências em contra-ciclo com os restantes países europeus. Quais são os modelos Triumph mais vendidos?
Vitor Sousa – Neste caso, a nossa gama vai ao encontro das preferências dos motociclistas portugueses. Por um lado, na gama Adventure, onde estamos presentes com a Tiger 800, a melhor trail de média cilindrada do mercado, unanimemente assim reconhecida pela imprensa nacional e internacional, e com a Tiger 1200, uma moto de grande turismo de aventura, tricilíndrica, com 141cv, veio de transmissão e equipamento superior a todas as suas concorrentes do mercado, para além de um preço altamente competitivo.
Por outro lado, na gama das neo-clássicas, desde logo com a maior, absoluta, e mais copiada referência do segmento, a Triumph Bonneville, que comemora este ano o seu 60º aniversário, e toda uma variedade de modelos e propostas que vão da Street Twin, modelo de entrada, à rainha das café-racers, a Thruxton R, passando pelas exóticas e exclusivas Bobber e Scrambler… uma gama completíssima, com diferentes propostas, genuínas, e onde estamos vários passos à frente da concorrência em termos de desenho, qualidade e desempenho.
Relativamente às vendas, a Tiger 800, nas suas mais diversas versões é o nosso modelo mais vendido, seguido da Street Twin e das Bonneville T100 (motor 900cc) e T120 (motor 1200cc).
Andar de Moto - Dentro dos modelos vendidos em Portugal, as edições especiais e limitadas como as TFC, são de certeza motos bem especiais e que despertam o interesse dos clientes. Em Portugal vamos poder ver alguns dos modelos TFC já conhecidos, na estrada? Quantas unidades TFC no total?
Vitor Sousa – As unidades TFC (Triumph Factory Custom) são motos muito exclusivas para um cliente muito especial que procura uma determinada afirmação pela diferença. Neste momento temos vendidas uma unidade Thruxton, já entregue, e duas Rocket 3.
Estas motos têm uma produção limitada, a procura excede largamente a oferta e nós estamos condicionados a um determinado lote atribuído pela fábrica. Posso dizer que podíamos ter vendido mais unidades Rocket 3 TFC mas não conseguimos que nos fossem atribuídas. A partir do momento que esgotaram, não houve mesma mais nenhuma. E estamos a falar de motos que só vão ser entregues apenas em janeiro de 2020…
Andar de Moto - O que significa para a Triumph os modelos TFC? É apenas o lançar no mercado uma moto de produção limitada para competir com marcas rivais por um nicho de mercado, ou é mais do que isso?
Vitor Sousa – Todos os lançamentos das marcas têm objectivos comerciais; vender mais, conquistar quota de mercado… a Triumph não é excepção. Mas no casos de modelos tão exclusivos com os TFC, é uma afirmação de capacidade da marca em termos de engenharia e desenho, e também muito importante no aspecto de projecção da Triumph enquanto marca Premium, associando o seu nome a produtos de alta exclusividade e diferenciadores pela qualidade.
Andar de Moto - E parece que agora temos mais modelos TFC a chegar, com fotos espia a revelarem a Bobber TFC. O que nos podes adiantar sobre esta moto que de certeza será também em produção limitada e muito especial?
Vitor Sousa – Não me referindo a qualquer modelo em particular, a marca vai continuar a lançar modelos TFC, seguindo as premissas que apontei anteriormente.
Andar de Moto - Mas a “vida” da Triumph não se resume às TFC embora estas sejam as motos mais desejadas. Na realidade as mais recentes fotos espia mostram novas Tiger 900, Thruxton, ou a muito popular Street Triple. Poderemos esperar novidades destes modelos em Milão, na EICMA, ou podes adiantar-nos alguns detalhes destas motos para os nossos leitores?
Vitor Sousa – Nos últimos anos a Triumph tem efectuado uma revisão profunda na sua gama, tanto através do lançamento de modelos novos, como da renovação de alguns dos seus modelos mais emblemáticos. Essa senda de novidades vai continuar, e acentuar-se até nos próximos anos, com o lançamento de modelos em segmentos onde a marca não está representada actualmente.
Andar de Moto - A confirmar-se a chegada destas motos todas para 2020, será uma profunda remodelação da gama Triumph. Como vês a chegada destas novidades a Portugal?
Vitor Sousa – Não concordo que se trate de uma profunda remodelação. Há modelos que sofrerão uma intervenção maior que outros, há modelos que são quase inteiramente novos, mas falamos sempre de uma evolução e de uma atualização da gama. Temos tido, todos os anos, a chegada de muitas novidades; 2020 não será diferente.
Naturalmente, aguardamos com enorme expectativa a chegada de novos modelos, pois a marca habituou-nos à apresentação de produtos de enorme qualidade e capacidade, atuais e inovadores, com uma qualidade de construção e acabamentos muito elevada. E ainda acompanhados de uma gama de acessórios dedicados, e homologados, bastante completa.
Andar de Moto - Haverá outras novidades para além daquelas que já aqui referimos? Se sim, para que segmento? Ou quantas mais novidades está a Triumph a preparar? De certeza que já tens essa informação.
Vitor Sousa – Haverá novidades em todos segmentos em que estamos presentes, mas se tiver que destacar algo, obviamente terei de falar da nova Rocket 3, R e GT, com o seu motor tricilíndrico de 2500cc. Uma moto impressionante em todos os aspetos, única e exclusiva, sem comparação com mais nada que exista no mercado.
Andar de Moto - Mudando de tema, e sendo tu uma pessoa com uma ligação muito forte ao motociclismo de competição e um apaixonado da marca de Hinckley, como é que te sentiste ao saber que a Triumph seria fornecedora dos motores Moto2?
Vitor Sousa – Foi uma notícia fantástica, que recebi com enorme agrado. Pessoalmente gostava de ver a marca representada no MotoGP ou no Dakar, por exemplo, mas sei que isso não é possível por enquanto. Afinal de contas, somos uma grande marca, mas uma pequena empresa no panorama da indústria motorizada mundial.
Andar de Moto - Tens noção de que houve muita gente que “rebaixou” os motores Triumph tricilíndricos 765, brincando com a possível pouca fiabilidade dos mesmos. Mas a realidade tem sido muito diferente do que alguns vaticinaram. Como analisas esta estreia da Triumph nas Moto2 e tens alguma coisa a dizer aos que brincaram com a situação?
Vitor Sousa – Toda a gente tem o direito, por graça ou ignorância, a ter a sua opinião e até brincar com essas coisas, mas, pessoalmente, prefiro esperar pelos factos, olhar para eles e tirar conclusões a partir daí. Penso que os resultados já alcançados neste primeiro ano estão à vista e dispensam comentários, tanto em termos de desempenho (recordes de pista, velocidade de ponta, etc…) como em termos de fiabilidade.
Andar de Moto - Tens noção, ou será que pelo menos consegues imaginar, qual é a importância da Triumph estar presente no Mundial Moto2? Por exemplo, e falando do motor 765, notaste que houve mais interesse na aquisição da Street Triple 765?
Vitor Sousa – Sim, todos temos noção da importância da ida da Triumph para o Moto2. Por um lado confere à marca uma visibilidade enorme, pois trata-se de um desporto visto por milhões de pessoas, em todo o mundo, ao longo de quase 20 fins de semana do ano, uma projeção que dificilmente alcançaríamos se não estivéssemos envolvidos, por outro lado, permite à marca dizer ‘somos capazes, o nosso produto é de confiança, de topo e aqui está a prova’ e, finalmente mas não menos importante, é a possibilidade de usufruir de um ‘laboratório’ permanente e em constante aumento de exigência competitiva.
Obviamente que, a Street Triple 765, especialmente a versão RS, é uma moto que reflete a procura e o interesse manifestado pelo motor de 765cc, mas os efeitos da presença no Moto2 estendem-se a toda a gama, pois o primeiro impacto junto das pessoas é o do próprio nome da marca.
Andar de Moto - Os clientes da marca vão beneficiar desse envolvimento na competição? Mais a nível da eletrónica ou noutros aspectos também?
Vitor Sousa – Os clientes são os principais beneficiados da presença da marca na competição. Em todos os aspetos, de mecânica à electrónica. Tudo o que se faz na competição, acaba na moto do stand.
Andar de Moto - E uma das novidades mais aguardadas é a exótica Daytona 765 Moto2 Limited Edition. Será mais uma moto de produção limitada (mas não uma TFC). Podes já adiantar o preço desta moto? Ou levantar um pouco o véu sobre as suas características técnicas?
Vitor Sousa – Ainda não temos preço para essa moto. Quanto a levantar o véu, não será preciso especular muito. Naturalmente terá mais que os 123cv da Street RS, e todo um conjunto ciclístico a condizer com uma moto que carrega a responsabilidade de ser encarada como uma ‘Moto 2 de série’, naturalmente não o sendo.
Mas, se tivermos em conta que a anterior Daytona 675R, descontinuada há alguns anos, ainda este ano venceu a corrida de Supersport do TT da Ilha de Man, podemos ficar com uma ideia do tipo de desempenho de ciclística que poderá oferecer. Em breve saberemos, já que a moto será apresentada quando do GP de Inglaterra.
Andar de Moto - Sendo uma Limited Edition a moto que foi recentemente anunciada, podemos esperar uma (ou mais) versão base da nova Daytona 765 também para 2020?
Vitor Sousa – Não. Isso não vai acontecer. E posso dizer que das 40 unidades Daytona 765 Moto2 que foram atribuídas ao mercado ibérico, só já restam 20 disponíveis. Em cerca de duas semanas, 50% do lote ficou reservado. E para reservar uma, basta a qualquer interessado dirigir-se a um concessionário oficial e fazer um depósito de sinal.
Andar de Moto - Se não fosse a ligação da Triumph às Moto2, seria possível vermos uma nova Daytona 765 como vai acontecer, tendo em conta que o segmento supersport está um pouco posto de parte pelos motociclistas em todo o mundo?
Vitor Sousa – Não. Como referiste, e bem, o segmento supersport é, hoje em dia, praticamente insignificante. A prioridade da marca está noutros segmentos, e é nesses que temos que nos focar.
https://www.andardemoto.pt/moto-news/44609-entrevista-a-vitor-sousa-o-passado-o-presente-e-o-futuro-da-triumph/
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